A Luta Contra a Superobesidade: A Longa Espera por Cirurgia Bariátrica no SUS e a Busca por Uma Nova Vida

A obesidade severa, classificada como superobesidade quando o Índice de Massa Corporal (IMC) ultrapassa 50, impõe desafios físicos e emocionais significativos aos pacientes. Cláudia Rogeria Torres, uma maranhense de 46 anos, conhece essa realidade de perto. Com um IMC de 72, ela enfrenta diariamente limitações que afetam sua qualidade de vida, enquanto aguarda ansiosamente por uma cirurgia bariátrica através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Desde o início de 2024, Cláudia está na fila do SUS, sonhando com a oportunidade de transformar sua saúde e bem-estar. A espera é longa e incerta, mas a esperança a mantém firme. “Sei que existem dificuldades no pós-operatório, mas são muito mais benefícios. Hoje, é difícil cortar a unha do pé ou calçar um tênis”, desabafa, ilustrando o impacto da obesidade em suas atividades diárias.

A superobesidade, que afeta uma parcela significativa da população brasileira, eleva drasticamente o risco de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e apneia do sono. Indivíduos com IMC acima de 50 enfrentam um perigo ainda maior de desenvolver complicações de saúde graves. Por isso, o acesso à cirurgia bariátrica torna-se crucial para reverter esse quadro e melhorar a qualidade de vida desses pacientes.

Embora a cirurgia bariátrica seja considerada um tratamento eficaz para a obesidade severa, o caminho para obtê-la através do SUS pode ser árduo. A endocrinologista Cristiane Moulin de Moraes Zenobio observa que “muitas vezes os pacientes têm dificuldades para fazer ações básicas, como passar pela roleta de ônibus, calçar sapatos ou cruzar as pernas”. Essa realidade demonstra a urgência de facilitar o acesso a tratamentos que possam transformar a vida dessas pessoas.

A jornada de Cláudia no SUS começou em 2018, mas a demora na marcação da cirurgia a fez desistir temporariamente. “Tenho compulsão alimentar. Com essa demora, a gente perde peso e engorda de novo. É muito ruim porque mexe com o nosso psicológico”, lamenta. Em 2024, ela retomou a busca, renovando suas esperanças e reforçando seu compromisso com uma vida mais saudável.

A espera pela cirurgia bariátrica no SUS é permeada por desafios, desde a demora na fila até a falta de infraestrutura adequada e o preconceito enfrentado pelos pacientes. A endocrinologista Cristiane ressalta a importância de uma assistência médica acolhedora, afirmando que “não adianta apontar o dedo e não fornecer tratamento efetivo”. É fundamental que os serviços de saúde ofereçam um suporte completo e humanizado aos pacientes com obesidade.

O processo para realizar a cirurgia bariátrica no SUS envolve diversas etapas, desde a atenção primária até a avaliação em serviços especializados. O Ministério da Saúde estabelece critérios específicos para a indicação da cirurgia, priorizando os casos mais graves. No entanto, a realidade muitas vezes diverge do protocolo ideal, com pacientes enfrentando dificuldades para realizar exames e obter tratamentos complementares.

A perda de peso antes da cirurgia é geralmente recomendada para reduzir os riscos de complicações. No entanto, o endocrinologista Bruno Geloneze pondera que essa recomendação não pode ser usada como regra para eliminar pacientes da lista de espera. “Deixar de operar porque a pessoa não emagreceu é condená-la a nenhum tipo de tratamento”, enfatiza, defendendo uma abordagem mais individualizada e compreensiva.

Embora as “canetas emagrecedoras” tenham se popularizado como auxílio na perda de peso, a cirurgia bariátrica ainda é considerada a melhor opção para casos de superobesidade. A médica Cristiane considera que esses medicamentos poderiam ajudar os pacientes na fila da bariátrica a perder peso antes da cirurgia, mas, infelizmente, o Ministério da Saúde vetou a incorporação desses medicamentos no SUS.

A cirurgia bariátrica, realizada por videolaparoscopia no SUS, oferece diversos benefícios, como a diminuição do risco de hérnias e infecções, o retorno precoce às atividades e a menor dor pós-operatória. Existem diferentes técnicas cirúrgicas disponíveis, como o bypass gástrico e a gastrectomia vertical (sleeve), ambas oferecidas pelo SUS. A escolha da técnica mais adequada depende das características e necessidades de cada paciente.

Um estudo recente publicado na revista Nature demonstrou a eficácia de diferentes métodos cirúrgicos no tratamento de pacientes com superobesidade. Os resultados mostraram que o peso corporal e o IMC diminuíram significativamente após a cirurgia, além de melhorias em outros indicadores de saúde. Esses achados reforçam a importância da cirurgia bariátrica como uma ferramenta valiosa para o tratamento da obesidade severa.

A vida após a cirurgia bariátrica exige um acompanhamento multidisciplinar contínuo, com foco na nutrição adequada, na reposição de vitaminas e minerais e na saúde mental. A suplementação nutricional é essencial para evitar a desnutrição, mas nem sempre está disponível na rede pública. A atendente Mylena Vasconcelos, que passou pela cirurgia bariátrica no HRAN, relata a transformação em sua vida após o procedimento, destacando a melhora na autoestima e na qualidade de vida.

Os médicos enfatizam a importância da mudança no estilo de vida após a bariátrica, com a prática de atividade física e a adoção de hábitos alimentares saudáveis. O endocrinologista Geloneze ressalta que a atividade física ajuda na preservação da massa magra, diminui o risco de ganho de peso e melhora o contexto metabólico cardiovascular. A cirurgia bariátrica é um importante passo, mas a mudança de hábitos é fundamental para garantir resultados duradouros e uma vida mais saudável e feliz.

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