A voz aos 9 anos

Há histórias que começam com diplomas, congressos e títulos técnicos. A dela começa no chuveiro.

Carolina Andrade Bragança Capuruço tinha apenas nove anos quando um sonho — desses que atravessam a infância e se tornam direção de vida — marcou para sempre sua trajetória. “Minhas mãos vão salvar muitos corações”, disse a luz. Não era metáfora. Era destino anunciado. E ela nunca esqueceu.

Filha de dois médicos, criada entre livros e plantões, Carolina cresceu observando a medicina antes de estudá-la. A infância foi feliz, mas não fácil. O pai, recém-formado, e a mãe, ainda graduanda, lutaram — como tantos brasileiros — para transformar estudo em dignidade. E Carolina aprendeu cedo o que não é negociável: esforço, ética, delicadeza e missão.

Órfã de pai ainda adolescente, emancipada quando muitos ainda estão descobrindo quem são, prometeu honrar uma história interrompida aos 42 anos. E foi assim que ela viveu: com pressa de fazer o que ele não teve tempo de concluir.

O caminho ninguém precisa imaginar — porque ela deixou marcas por onde passou. Formada em ballet pela Royal Academy e pelo Bolshoi aos 12 anos. Pianista formada pela UFMG aos 15. Apaixonada por línguas, conquistou TOEFL e DALF antes dos 18. E então, o momento que muda o futuro de qualquer família: primeiro lugar em Medicina na UFMG aos 17 anos. Sem cursinho, estudando 15 a 16 horas por dia. Não é romantização. É fato.

Depois vieram as residências, as subespecializações, as pós-graduações, os plantões, os congressos, o doutorado, os quase 100 horas semanais de estudo e trabalho. Carolina não “chegou lá”. Ela construiu lá.

Pediatria. Cardiologia pediátrica e fetal. Intensivismo. Emergência. São áreas onde a medicina deixa de ser discurso e volta a ser vocação: salvar vidas, aliviar sofrimento, acalmar mães, devolver sons, sorrisos e histórias. E foi justamente nesse corredor de urgências que chegou um novo chamado — diferente daquele primeiro sonho, mas com a mesma potência.

Até os anos 2000, pouco se falava em crianças com Síndrome de Down no Brasil. Eram invisíveis, subdiagnosticadas, pouco compreendidas. Carolina, inquieta, escolheu estudar. Não para ter razão, mas para dar voz. Não para aparecer, mas para aparecer junto com famílias, mães, pais e crianças que só precisavam de alguém disposto a ir até o fim. Ela foi. E continua indo.

No meio da ciência, Deus costurou também a vida pessoal. Chegaram Cristiano, primeiro amor. Depois, Pedro, segundo amor. A maternidade que muda rumos sem apagar essência. A médica que defendeu mestrado com 37 semanas de gestação — porque quem descobre missão não pausa. Integra.

E quando a pandemia colocou o país de joelhos, Carolina não se calou. Levantou a voz em defesa das crianças, das escolas, das famílias, da saúde mental, do retorno responsável às aulas. Numa época em que todos concordavam, mas poucos tinham coragem de dizer, ela disse. E sustentou.

Hoje, com mais de 100 mil seguidores, Carolina não “viraliza”. Transforma.
Fala de medicina sem perder a ternura.
Fala de ciência sem perder a fé.
Fala de protocolos sem perder a poesia.

E quando encontra uma criança com T21, ela não enxerga síndrome — enxerga pessoa. História. Potência. Futuro.

É simples entender porque tanta gente confia nela: Carolina não fala sobre o outro, ela fala com o outro. Não “trata” famílias, acolhe famílias. E quem passa pelo consultório dela, dificilmente volta igual.

“Ser feliz depende de cada um”, ela diz. “Sucesso só vem antes de trabalho no dicionário.”
É uma frase dura, mas justa. Coerente com quem estudou 16 horas por dia. Coerente com quem ouviu uma luz no banheiro e acreditou.

Afinal, algumas missões não nascem em currículo. Nascem em lágrima. Em sonho. Em propósito.
E Carolina Capuruço, desde os 9 anos, já sabia a sua:
salvar vidas e aliviar o sofrimento.

O resto — títulos, prêmios, universidades na França, EUA, Alemanha — é consequência. A causa é uma só: cuidar.

Porque, apesar das tempestades inevitáveis, como ela mesmo diz, “a vida sempre foi, é e será linda”.

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