Impactos da mudança climática na tradição do Día de Los Muertos
Neste domingo (2), o México celebra o Día de Los Muertos, mas a flor que guia as almas, o cempasúchil, está ameaçada pelo aquecimento global.
Neste domingo (2), enquanto o Brasil lembra seus entes queridos no Dia de Finados, o México celebra de forma festiva o Día de Los Muertos. Altares coloridos, velas e o brilho alaranjado do cempasúchil – símbolo da data – representam a ligação entre vivos e mortos. Mas essa tradição pode estar ameaçada: a flor que “guia as almas” está desaparecendo com o avanço do aquecimento global.
Impacto das mudanças climáticas
Nos canais de Xochimilco, ao sul da Cidade do México, o tom vibrante do cempasúchil vem desbotando sob o impacto de secas prolongadas, chuvas intensas e enchentes cada vez mais comuns. Essas mudanças no clima afetam o solo, reduzem a produtividade e favorecem pragas que atacam as raízes. Para os agricultores, o prejuízo é duplo – econômico e cultural. Lucia Ortíz, de 50 anos, cultiva o cempasúchil há três décadas em um terreno herdado da família e teme pelo futuro. “Perdemos muito este ano. Houve momentos em que não tínhamos dinheiro nem para comprar fertilizante”, contou.
Números e indicadores do caso
De acordo com o governo mexicano, cerca de 37 mil acres de plantações foram destruídos em 2025, com perdas de até 50% da safra. Mesmo assim, os produtores resistem. A prefeita da Cidade do México, Clara Brugada, informou que a produção chegou a 6 milhões de unidades neste ano, o maior número já registrado, resultado do esforço coletivo para manter viva a tradição, ainda que com lucros menores.
Preservação da tradição
Mais do que um ornamento, o cempasúchil tem forte valor espiritual. Suas pétalas intensamente alaranjadas são usadas para traçar o caminho das almas e enfeitam ruas e altares por todo o país. O cultivo movimenta cerca de R$14 milhões por ano, sendo essencial para milhares de famílias rurais. Diante da crise, cientistas buscam salvar essa herança cultural. No banco de sementes Toxinachcal, pesquisadores do governo armazenam milhares de espécies nativas, incluindo 20 variedades do cempasúchil, com o objetivo de reintroduzi-las nas regiões mais afetadas.
Desafios enfrentados
A bióloga Clara Soto Cortés, responsável pelo projeto, explica que a substituição das variedades locais por sementes híbridas importadas dos EUA piorou a situação. “As sementes nativas são mais adaptadas ao clima mexicano. As híbridas não têm a mesma diversidade genética e sofrem mais com o calor e a umidade.” Enquanto esperam apoio, Ortíz e outros agricultores buscam formas de continuar produzindo. Carlos Jiménez, de 61 anos, estuda usar estufas para proteger as plantas das variações do clima, afirmando que “quando a safra se perde, vai junto parte da nossa história”. Mesmo com prejuízos, ele reafirma que desistir não está nos planos, pois “o cempasúchil representa nossos antepassados. Precisa resistir.”