Ex-chanceler Celso Amorim reforça posição brasileira em relação à Venezuela
Brasil não irá pressionar Nicolás Maduro, diz Celso Amorim em entrevista.
O Brasil não irá pressionar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para sua renúncia, conforme afirmou Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao jornal The Guardian. Amorim destacou que não se deve incentivar a ideia de que o Brasil pode oferecer asilo a Maduro, embora não descarte a possibilidade de uma tentativa do presidente venezuelano de se refugiar no país.
Em sua declaração, Amorim enfatizou que a renúncia de líderes não deve ocorrer sob pressão externa, especialmente dos Estados Unidos. Segundo ele, caso cada eleição controversa levasse a uma invasão, o mundo estaria em chamas. Este comentário surgiu em resposta a questionamentos sobre um eventual ataque norte-americano à Venezuela, especialmente considerando a crescente tensão entre os dois países.
Resistência e soberania na América Latina
O ex-chanceler comparou a situação da Venezuela com conflitos históricos, notando que uma intervenção militar dos EUA seria análoga ao que aconteceu no Vietnã. Ele argumentou que a América do Sul se construiu sobre a resistência contra invasores estrangeiros e que uma ação militar nessa direção poderia desencadear um forte sentimento anti-EUA em toda a região.
Desde agosto, os EUA têm intensificado suas operações militares na América Latina e Caribe, justificando essas ações pelo combate ao tráfico de drogas. Atualmente, forças navais dos EUA estão na região, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford, que é o maior do mundo. Além disso, uma operação chamada Lança do Sul pretende aumentar a eficácia do combate ao narcotráfico, com dados do Pentágono indicando ataques a embarcações suspeitas em águas do Caribe.
Implicações das operações militares dos EUA
Amorim expressou preocupação com as intenções das operações militares dos EUA, especialmente porque o governo Trump tem se dirigido especificamente contra Nicolás Maduro, acusando-o de chefiar um cartel e o rotulando de terrorista. Essa designação permite que os EUA justifiquem ações em outros países da América Latina sob a bandeira de combate ao terrorismo.
A retórica de Trump se estendeu a outros líderes latino-americanos, como o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que também foi alvo de acusações. A política externa dos EUA na região, portanto, está gerando um ambiente de insegurança e desconfiança.
Asilo político e o legado de 2005
Celso Amorim também falou sobre a possibilidade de asilo político para Maduro, reiterando que o Brasil já ofereceu refúgio a figuras políticas no passado. Ele lembrou o caso de Lucio Gutiérrez, presidente do Equador, que recebeu apoio brasileiro em 2005. Amorim afirma que o asilo é uma prática comum na América Latina, aplicável a líderes de diversas orientações políticas. Contudo, ele foi cuidadoso ao ressaltar que não queria promover a ideia de que isso poderia ser uma opção para Maduro, evitando assim qualquer interpretação que sugira um incentivo.
Diante da complexidade dos eventos atuais e das irrupções de políticas externas agressivas, o Brasil se posiciona como um defensor da soberania latino-americana, mantendo uma postura cautelosa e estratégica em relação à situação na Venezuela.
Fonte: www.metropoles.com


