Um estudo inovador desenvolvido na Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais, promete revolucionar o cálculo da calagem, impactando diretamente na produtividade de culturas como o milho e a soja. A pesquisa, resultado de dez anos de estudos e da experiência do professor Silvino Guimarães Moreira, da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal/Ufla), propõe um método prático para estimar a necessidade de calagem, levando em consideração a relação entre cálcio, magnésio e o pH do solo.
O método inovador permite estimar doses específicas de calcário para duas profundidades distintas: de 0 a 20 cm e de 0 a 40 cm, com foco principal na correção em camadas mais profundas. Essa abordagem possibilita a melhoria da fertilidade do subsolo e amplia o volume explorado pelas raízes das plantas. Os resultados da pesquisa foram publicados na internacional Soil & Tillage Research.
O estudo visa aprimorar as estimativas de cálculo de doses de calcário, uma vez que os métodos convencionais frequentemente subestimam as quantidades necessárias para corrigir o pH do subsolo, especialmente em áreas agrícolas novas. A subestimação das doses pode levar a reaplicações e atrasos na correção da acidez, gerando impactos econômicos significativos.
Para validar o novo método, os pesquisadores conduziram sete experimentos de campo em diferentes municípios de Minas Gerais, abrangendo diversas condições climáticas e de solo, ao longo de quatro anos (14 safras). Foram avaliadas diferentes doses de calcário incorporadas até 0,40 m de profundidade.
Os resultados demonstraram o potencial de aumentar a produtividade das culturas anuais e a resiliência destas aos déficits hídricos. Constatou-se que níveis mais elevados de cálcio e magnésio no solo, tanto na camada de 0 a 20 cm quanto na de 20 a 40 cm, são cruciais para o sucesso. O estudo estabeleceu novos níveis críticos para os nutrientes cálcio e magnésio no solo para essas duas camadas, que são superiores aos tradicionalmente recomendados.
Em lavouras de milho segunda safra submetidas a períodos de seca, a aplicação baseada na nova metodologia proporcionou ganhos de produtividade superiores a 50%. Em lavouras de soja, os ganhos chegaram a 30%. O efeito foi atribuído ao maior desenvolvimento radicular em profundidade, permitindo que as plantas acessassem água e nutrientes mesmo em períodos de escassez hídrica.
O método também indica que, para atingir 95% da produtividade das lavouras anuais, é preciso garantir 60% de cálcio na camada de 0 a 20 cm do solo e 39% na camada de 20 a 40 cm. Os pesquisadores esperam que a nova abordagem tenha um impacto significativo na agricultura brasileira, especialmente em regiões como o Cerrado.