Planejamento antecipado e governança fiscal reduzem riscos e fortalecem a saúde financeira das companhias

De acordo com dados da Receita Federal do Brasil, as autuações fiscais a empresas de médio e grande porte aumentaram 12% em 2024, com destaque para irregularidades em tributos indiretos e falhas no cumprimento de obrigações acessórias. O cruzamento digital de informações entre sistemas federais, estaduais e municipais têm tornado o ambiente fiscal cada vez mais rigoroso, e empresas que deixam para “acertar as contas” apenas no fim do ano correm o risco de iniciar 2026 com passivos inesperados e impactos diretos no caixa.
A advogada tributarista da Mazutti Ribas Stern Sociedade de Advogados, Paula Kantek Navarro, explica que planejar o encerramento fiscal e alinhar as rotinas tributárias antes da virada do ano é uma medida essencial para garantir a conformidade, previsibilidade e eficiência financeira. “Empresas que tratam o compliance tributário como prioridade estratégica e não apenas como obrigação contábil estão menos expostas a autuações e mais preparadas para aproveitar oportunidades legais de economia fiscal. 2026 deve ser um ano de atenção redobrada diante da ampliação das ferramentas de fiscalização eletrônica e da implantação de novas regras decorrentes da reforma tributária”, afirma.
O primeiro passo, segundo Paula, é revisar o regime tributário adotado e verificar se ele continua sendo o mais adequado para o porte e perfil financeiro da empresa. “É comum encontrar empresas de médio porte no lucro presumido, quando já teriam vantagem migrando para o lucro real, ou o contrário. Essa reavaliação pode reduzir a carga tributária e prevenir inconsistências na apuração”, explica. Ela lembra que essa análise deve envolver o setor contábil, o jurídico e a diretoria financeira, garantindo uma visão integrada das obrigações fiscais.
Cumprimento das obrigações acessórias a ações preventivas
Outro ponto de atenção está no cumprimento das obrigações acessórias, como SPED Fiscal, EFD-Contribuições e DCTFWeb, que hoje são monitoradas em tempo real. “Pequenos atrasos ou divergências entre informações declaradas e valores efetivamente recolhidos podem gerar multas automáticas e despertar fiscalizações mais detalhadas. É recomendado que as empresas implementem rotinas internas de checagem e conferência cruzada entre sistemas, além de capacitar as equipes responsáveis pela escrituração digital e acompanhamento legislativo”, reforça a advogada.
No encerramento do exercício de 2025, é igualmente importante realizar uma auditoria preventiva. Essa revisão permite ajustar lançamentos, corrigir provisões e confirmar o aproveitamento de créditos tributários, especialmente em PIS, Cofins e ICMS. “A revisão de créditos é uma das formas mais eficazes de recuperar valores pagos a maior e otimizar o fluxo de caixa no início de 2026. Também é importante haver muita atenção ao uso de benefícios fiscais, já que muitos têm prazos de vigência e exigem renovação ou comprovação de requisitos para permanecerem válidos”, explica Navarro.
Por fim, o acompanhamento da reforma tributária e das novas regulamentações é indispensável. Mudanças no sistema de tributos sobre consumo, como o futuro IBS e a CBS, devem começar a ser implementadas gradualmente a partir de 2026. “As empresas que se prepararem com antecedência terão mais tempo para ajustar processos e sistemas, evitando custos operacionais de última hora e riscos de descumprimento”, alerta a advogada.
Checklist para entrar em 2026 com os tributos em dia:
-
Revisar o regime tributário e simular alternativas para 2026.
-
Conferir o cumprimento de todas as obrigações acessórias.
-
Revisar créditos tributários e provisões contábeis.
-
Atualizar o calendário fiscal e definir responsáveis internos.
-
Verificar a vigência de incentivos e benefícios fiscais.
-
Realizar auditoria preventiva antes do fechamento de 2025.
-
Planejar o fluxo de caixa para os tributos de início de exercício.
-
Acompanhar as mudanças trazidas pela reforma tributária.