Reflexões sobre a atuação do Estado e o crime organizado
Análise crítica sobre como o crime organizado se fortalece em meio à fragilidade do Estado no Brasil.
Você já viu esse filme antes: uma megaoperação da polícia contra o crime organizado em uma favela do Rio de Janeiro que termina em grande comoção, dezenas de mortos e a sensação de que as coisas só pioram. E pioram bastante.
Como ficou demonstrado hoje, o crime organizado tem condições de resistir ao Estado, contra-atacar, e dispõe de logística suficiente para se reagrupar, se rearmar e continuar ampliando seu controle sobre territórios e populações.
Do ponto de vista político, a situação é ainda mais grave. Por se tratar de um ponto muito vulnerável para o governo nas próximas eleições, qualquer debate técnico ou, digamos, imparcial sobre segurança pública está interditado. Governadores pedem ajuda federal e afirmam que ela é negada; o governo federal, por sua vez, alega que presta auxílio e que os governadores é que não sabem agir adequadamente.
No caso específico do Rio, autoridades locais argumentam que, além de tudo, decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) dificultam o trabalho policial.
Girando em torno de si mesmo, o sistema político e suas instituições parecem demorar a perceber que o crime organizado se transformou no principal fator de risco político e de governabilidade em vários países da região — e diversas áreas do Brasil já fazem parte desse grupo.
O crime organizado brasileiro já é visto, inclusive, como um fator de risco geopolítico pelos Estados Unidos, que pressionam o governo brasileiro a reconhecer organizações como o PCC e o Comando Vermelho como grupos terroristas, o que abriria caminho para uma militarização mais intensa de seu combate.
Sem o presidente Lula (PT), que estava em viagem, a Casa Civil reconheceu a gravidade dos acontecimentos e organizou uma reunião de ministros para monitorar os desdobramentos da operação policial no Rio de Janeiro. A situação é séria. Entre os participantes da reunião estava, inclusive, o chefe de marketing do governo.