Uma pesquisa inovadora conduzida por cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) revela uma esperança no combate à febre maculosa. Eles identificaram uma substância única na saliva do carrapato *Amblyomma sculptum*, principal transmissor da doença, que pode revolucionar o tratamento. A molécula, denominada Amblyostatin-1, demonstra potencial para modular a resposta imunológica do organismo, abrindo novas perspectivas terapêuticas.
Extraída da saliva do carrapato, a Amblyostatin-1 apresentou propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras em testes iniciais. Surpreendentemente, a substância parece retardar a resposta natural do sistema imune à bactéria causadora da febre maculosa. Este efeito paradoxal pode ser a chave para desenvolver novas abordagens de tratamento, conforme explica o professor Anderson de Sá-Nunes, imunologista que liderou a investigação.
“A molécula que identificamos é um imunomodulador, que é importante não só para entender como ocorre o contágio com a febre maculosa — ajudando o corpo humano a bloquear a infecção — como também possui uma capacidade de interferir no sistema imune que pode ser útil para o desenvolvimento de remédios e tratamentos no futuro”, destaca Sá-Nunes.
A pesquisa, publicada na revista científica *Frontiers in Immunology*, contou com a colaboração de pesquisadores de diversos países e o financiamento da FAPESP e do CNPq. Os resultados sugerem que a Amblyostatin-1 pode ter aplicação terapêutica em outras doenças inflamatórias crônicas e autoimunes, desde que adaptada para uso clínico. A molécula age inibindo enzimas envolvidas na resposta imunológica, resultando na redução da inflamação.
Além do potencial terapêutico, a descoberta da Amblyostatin-1 oferece uma nova perspectiva sobre a interação entre o carrapato e o hospedeiro. Os pesquisadores observaram que a secreção da molécula é maior durante a alimentação do carrapato, o que sugere um mecanismo para evitar a detecção do ataque. Com estes dados, os cientistas buscam agora desenvolver estratégias para impedir que a bactéria da febre maculosa se estabeleça no organismo, visando neutralizar a doença em seus estágios iniciais e reduzir o número de fatalidades.