Reflexões sobre a presença reduzida de técnicos negros nas principais ligas da Europa
Estudo revela a baixa presença de treinadores negros nas ligas europeias, refletindo desigualdade racial.
A realidade dos treinadores negros no futebol europeu
No início de novembro, Júlio Baptista, ex-jogador da Seleção Brasileira e do Real Madrid, fez uma declaração impactante ao jornal italiano “La Gazzetta dello Sport”, expressando sua preocupação com a escassez de treinadores negros nas principais ligas da Europa. Esta afirmação destaca um tema importante: enquanto os gramados europeus são preenchidos por talentos negros, a liderança técnica ainda é predominantemente branca.
Descompasso nas estruturas de poder
A reportagem do portal ge entrevistou Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol (ODRF), que comentou sobre a dificuldade de mudança nesse cenário. Segundo Carvalho, as estatísticas mostram que, ao olhar para os 96 clubes das cinco principais ligas — Premier League, LaLiga, Série A, Bundesliga e Ligue 1 — apenas quatro possuem treinadores negros nesta temporada. Essa situação revela um descompasso significativo entre a presença de jogadores e a de técnicos.
Nomes em destaque e a falta de representação
Atualmente, o principal nome entre os técnicos negros é Vincent Kompany, que comanda o Bayern de Munique, líder da Bundesliga. Ele é o primeiro treinador negro na história do clube desde 1963. Os outros treinadores negros nas ligas principais incluem Nuno Espírito Santo, do West Ham, Habib Beye, do Rennes e Liam Rosenior, do Strasbourg. Infelizmente, tanto a La Liga quanto a Série A não têm nenhum treinador negro em suas equipes no momento, um fato que sublinha ainda mais a desigualdade.
Barreiras à inclusão
Marcelo Carvalho observa que a questão da qualificação não pode mais ser usada como justificativa para a ausência de treinadores negros. Ele afirma que a mudança precisa ocorrer nas estruturas de poder dos clubes e nas entidades que regem o futebol europeu. Júlio Baptista, que já treinou o time B do Valladolid e foi convidado para comandar o sub-19 do Real Madrid, expressa receio de que seu sonho de se tornar treinador profissional seja prejudicado por essa realidade.
Um panorama desolador
Em 2023, o cenário ainda é semelhante ao de anos anteriores. Patrick Vieira, que há dois anos era o único treinador negro na Premier League, foi demitido após uma sequência de resultados ruins. Um relatório da Black Footballers Partnership indicava que negros representavam apenas 1,6% das pessoas em posições de liderança no futebol. Essa sub-representação é alarmante e contrasta com a diversidade que se vê em campo.
Necessidade de mudança
Para que o futebol europeu se torne mais inclusivo, é essencial que haja um movimento de cima para baixo, com políticas claras de inclusão e promoção da diversidade em cargos de liderança. A voz de Júlio Baptista e de outros atletas que levantam essa questão é vital para que mudanças reais aconteçam no esporte. O desafio é grande, mas a necessidade de transformação é urgente para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades no futebol, independentemente de sua cor.
Conclusão
A realidade dos treinadores negros no futebol europeu é um reflexo de uma sociedade que ainda luta contra a desigualdade racial. A escassez de representação nas ligas mais importantes do continente não apenas prejudica a carreira de muitos talentos, mas também empobrece o próprio esporte. A mudança deve ser uma prioridade para as entidades responsáveis e para a sociedade como um todo.
Fonte: ge.globo.com
Fonte: Julio Baptista