Presença paterna influencia no desenvolvimento social, emocional e na autonomia de crianças com TEA, afirma especialista Nilson Sampaio
De acordo com o Censo de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas que declararam ter recebido o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo. Isso equivale a 1,2% da população brasileira, com condições do neurodesenvolvimento que afetam a comunicação, o comportamento e as interações sociais.
O diagnóstico precoce e o suporte adequado são fundamentais para essas pessoas, mas tão importante quanto qualquer intervenção clínica é o papel da família — especialmente da figura paterna. Para o professor e especialista em inclusão Nilson Sampaio, o envolvimento real do pai impacta diretamente o desenvolvimento das crianças autistas. “Muito mais do que ‘ajudar’ a parceira ou o parceiro, as crianças carecem de pais que desempenhem ativamente o seu papel. Pais que assumem responsabilidades nas atividades diárias, que priorizam o bem-estar físico e psicológico de seus filhos e que os orientam em sua trajetória de formação”, destaca.
O envolvimento paterno diário, seja com uma criança neurodivergente ou não, pode melhorar a dinâmica familiar como um todo. Um pai presente contribui para o equilíbrio da rotina, reduz a sobrecarga emocional da mãe ou dos demais cuidadores e transmite para a criança a segurança de que ela pode contar com múltiplos apoios ao seu redor. Isso favorece a autonomia, a autoestima e a inclusão social.
A literatura especializada e a prática clínica mostram que um pai presente traz ganhos concretos para a vida da criança. Entre eles:
- Ampliação do repertório comportamental e de comunicação;
- Maior flexibilidade mental, facilitando a adaptação a diferentes situações;
- Desenvolvimento da tolerância e da autorregulação emocional;
- Aprendizado de múltiplas formas de se comportar e se expressar;
- Compreensão de diferentes modos de ser, o que facilita o relacionamento interpessoal.
“Quando falamos de crianças com desenvolvimento atípico, é importante lembrar que o estresse vivido pelas famílias costuma ser elevado, seja pelas demandas terapêuticas, pela pressão social ou pelas dificuldades socioeconômicas. Ter ao lado um pai participativo, que divide decisões, leva a consultas, conversa com professores e está atento às necessidades do filho, torna-se um verdadeiro fator de proteção emocional”, explica o especialista. Segundo ele, compartilhar responsabilidades não apenas alivia o peso da rotina, como fortalece o vínculo familiar e amplia a rede de segurança da criança.

E quando chega o diagnóstico: por onde começar?
Para muitos pais, o primeiro impacto ao receber o diagnóstico de TEA pode ser marcado por medo, insegurança e dúvidas. Nesses momentos, é essencial respirar fundo, buscar informação e lembrar que nenhuma criança deixa de ser quem é por conta de um laudo. O passo inicial deve ser o acolhimento: ouvir os profissionais, compreender o que significa o diagnóstico e, acima de tudo, continuar oferecendo amor, rotina e presença.
Sampaio orienta que os pais busquem formar uma rede de apoio, envolvendo escolas, terapeutas, familiares e amigos confiáveis. “É fundamental não se isolar e nem fugir da situação. A criança precisa de estabilidade emocional, e o pai pode ser uma âncora nisso. Participar ativamente desde o início, mesmo com dúvidas, já faz uma grande diferença. A maior ferramenta que um pai pode oferecer, além de cuidados práticos, é o vínculo afetivo sustentado pela escuta e pelo respeito às singularidades do filho”, avalia.
Por outro lado, a ausência paterna pode ter impactos negativos significativos. “Quando o pai se mantém distante, quem perde não é só a criança — é a família inteira. Falta afeto, falta apoio, e falta referência para a formação de vínculos saudáveis”, alerta Sampaio.
A presença da figura e influência paternas na formação de uma pessoa é indiscutível e, quando ativa e atenciosa, complementa o papel da mãe e enriquece a trajetória de crescimento e desenvolvimento da criança, especialmente daquelas que estão no espectro. Não se trata de “ajudar” — trata-se de exercer a paternidade como ela deve ser: afetuosa, comprometida e presente. “É nesse paternar participativo, presente e responsável que acreditamos. Quando o pai está realmente envolvido — nas terapias, na rotina, no brincar e nas decisões — ele se torna um agente ativo de inclusão e desenvolvimento”, completa o professor.