Caso ocorrido em João Pessoa expõe transtornos mentais não tratados e abandono familiar do rapaz
O diretor da Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega alertou para a "tragédia anunciada" envolvendo jovem com transtornos mentais que morreu ao invadir a jaula de uma leoa em João Pessoa.
Diretor de presídio alerta para tragédia anunciada antes da morte do jovem pela leoa em João Pessoa
Em João Pessoa, Paraíba, o diretor da Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega, Edmilson Alves, conhecido como “Selva”, lamentou a morte de Gerson de Melo Machado, o “Vaqueirinho”, ocorrida em 30 de novembro, após o jovem invadir a jaula de uma leoa. O diretor destacou que o incidente era uma tragédia anunciada devido aos graves transtornos mentais que Gerson enfrentava, sem o devido acompanhamento e tratamento adequado.
Em vídeo divulgado, o chefe de disciplina da penitenciária ressaltou que o raciocínio do jovem era equivalente ao de uma criança de cinco anos, evidenciando a necessidade de acompanhamento especializado. O diretor Selva revelou que Gerson já havia passado por diversas internações, apresentava comportamento autolesivo e surtos frequentes, além de ser alguém que vivia sob medicação durante seu tempo preso.
Histórico de transtornos mentais e abandono familiar agravam situação de Gerson de Melo Machado
Gerson acumulava 16 passagens pela polícia, principalmente por danos e pequenos furtos. Ele apresentava transtornos mentais graves, conforme relatado por policiais e pelo diretor da penitenciária. Segundo Edmilson Alves, Gerson não recebia o devido apoio familiar; nem sua mãe, nem a avó, queriam assumir os cuidados, agravando sua vulnerabilidade.
A falta de suporte familiar e social contribuiu para que o jovem vivesse em condições extremas de pobreza e descaso. A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou Gerson por oito anos, afirmou estar profundamente abalada com a tragédia, ressaltando que ele foi uma criança vítima de diversas violações de direitos, incluindo o fato de ter uma mãe com esquizofrenia e avós também com problemas de saúde mental.
Sonho frustrado e episódios anteriores revelam fragilidade e desamparo do jovem
Desde a infância, Gerson expressava repetidamente seu desejo de viajar para a África e cuidar de leões, sonho que alimentava apesar das adversidades. Em um episódio grave, ele tentou entrar clandestinamente no trem de pouso de um avião para ir à África, o que demonstra seu estado de vulnerabilidade e fragilidade mental.
A conselheira relata que, apesar de destituída do poder familiar, a mãe ainda era procurada pelo jovem, que esperava que ela pudesse cuidar dele. No entanto, a mãe não estava em condições de assumir essa responsabilidade devido às suas próprias limitações.
Circunstâncias da morte e medidas tomadas pelas autoridades locais
Segundo nota oficial da Prefeitura de João Pessoa, o jovem escalou uma parede de mais de seis metros, passou pelas grades de segurança e entrou no recinto da leoa usando uma árvore como apoio. A administração municipal afirmou que o zoológico segue as normas técnicas e de segurança e que uma apuração das circunstâncias está em andamento.
A morte de Gerson de Melo Machado expõe uma combinação trágica de problemas sociais, falta de atendimento em saúde mental e abandono familiar. O caso levanta reflexões sobre a necessidade de políticas públicas efetivas para cuidar de pessoas com transtornos mentais em situação de vulnerabilidade e prevenir tragédias semelhantes.
Reflexões sobre a tragédia e o desafio do cuidado em saúde mental no sistema prisional
O diretor Selva enfatizou que seu relato não busca romantizar a situação, mas sim alertar para a realidade de um jovem que não recebeu o suporte necessário e cuja condição mental não foi adequadamente tratada. Ele destacou as limitações do sistema prisional frente a casos como o de Gerson, que demandam cuidados que ultrapassam a esfera da segurança.
Essa tragédia revela um desafio maior para o sistema público de saúde e assistência social, que precisa integrar esforços para oferecer acompanhamento contínuo e efetivo, sobretudo para pessoas em situação de vulnerabilidade extrema e com transtornos mentais, para evitar que histórias semelhantes se repitam.