Aurélio Bicalho aponta que juros altos refletem problemas fiscais
Especialistas avaliam que a trajetória da dívida pública brasileira é insustentável, com juros elevados impactando a economia.
O Brasil mantém uma trajetória de dívida pública considerada insustentável, com juros persistentemente altos, resultado de políticas fiscais que priorizam o gasto público acima do controle do endividamento, avaliou o economista-chefe e sócio da Vinland Capital, Aurélio Bicalho.
Mesmo em períodos de queda da dívida, nos anos 2000, o país convivia com taxas de juros elevadas. Isso porque, enquanto o PIB potencial girava em torno de 2% a 3%, os gastos do governo cresciam cerca de 6% ao ano em termos reais, o dobro da capacidade de expansão da economia. A pressão fiscal limitava o espaço para o setor privado, tornando, portanto, inevitável a manutenção de juros reais elevados.
Efeitos da política fiscal
A experiência do teto de gastos, implementado no governo Temer, mostrou o efeito contrário: com o crescimento real das despesas caindo a zero, o Brasil começou a se aproximar de padrões internacionais, tornando-se “uma economia mais normal”, segundo Bicalho. Ele também criticou a discussão pública que foca apenas nos juros altos, ignorando a causa do problema: o desequilíbrio fiscal.
Propostas para a melhoria
Bicalho defendeu que programas sociais precisam ser específicos e eficientes, evitando transformar gastos públicos em simples estímulo ao consumo. Ele explicou que políticas de estímulo ao gasto em excesso pressionam a demanda privada, obrigando o Banco Central a manter juros elevados para equilibrar a economia. Além disso, a análise histórica mostra que o juro neutro do Brasil se mantém elevado devido à expansão fiscal persistente e ao crédito subsidiado do passado.
Cenário político e eleitoral
Fatores políticos também afetam a percepção do mercado. O “fator idiossincrático”, que considera a popularidade do presidente, perdeu força nos últimos anos, aproximando a avaliação atual do governo de históricos de líderes que não conseguiram reeleição. Dados regionais, como o histórico de Minas Gerais, indicam que a desaprovação supera a aprovação, sinalizando uma eleição mais difícil para o atual governo.
Expectativas do mercado
No entanto, o mercado financeiro já começa a precificar uma eventual queda de juros. Segundo Bicalho, fatores externos, como o enfraquecimento do dólar e expectativas de política monetária do Fed, podem impulsionar ativos brasileiros. A gestora Vinland ajustou posições em NTNBs longas, moedas estrangeiras e estratégias de Bolsa para capturar valorização diante de juros mais baixos e mudança na política econômica.
Bicalho ressaltou que a gestão da carteira é disciplinada e focada em dar retorno ao cliente, adaptando-se rapidamente às mudanças políticas ou macroeconômicas. O trabalho coletivo dentro da Vinland é destacado, com ênfase na análise rigorosa e fundamentada em dados históricos.