Investigação revela tentativas de controle midiático por parte do banqueiro e as consequências de suas ações.
Daniel Vorcaro tentou controlar a narrativa sobre o Banco Master após a publicação de uma reportagem alarmante.
Em 11 de outubro de 2024, a IstoÉ Dinheiro passou por um momento inédito ao retirar de circulação sua edição 1.401, que trazia a reportagem “Fundo Garantidor de Crédito em risco?”. Nesta edição, a repórter Jaqueline Mendes expôs a deterioração do Banco Master e os riscos que ele representava ao sistema financeiro. O recolhimento foi determinado por Daniel Vorcaro, controlador do banco e sócio oculto da família Alzugaray, revelando o seu desejo de controlar a narrativa em torno de sua instituição.
A influência de Vorcaro e o recolhimento da revista
A decisão de recolher a edição foi confirmada por diretores de redação da editora, que relataram a pressão direta de Vorcaro. Naquele momento, sua participação na editora era um segredo conhecido internamente, mas não publicamente. Essa ação enfatizou a extensão de sua influência e sua intenção de proteger o banco por meio de investimentos em comunicação.
O alerta contido na reportagem, que Vorcaro tentou apagar, destacava como o Banco Master experimentou um crescimento acelerado ao atrair clientes com CDBs que ofereciam até 140% do CDI. Essa estratégia, embora bem-sucedida por um tempo, resultou em um aumento significativo na captação, que alcançou R$ 45,6 bilhões em junho de 2024. Contudo, essa expansão agressiva gerou preocupações entre analistas, que começaram a ver sinais de um risco crescente, levando o Banco Central a intervir com regras mais rigorosas.
A construção de um império midiático
Enquanto as regulamentações se intensificavam, Vorcaro se movia nos bastidores para moldar um conjunto de veículos de comunicação que pudessem influenciar discussões econômicas e políticas. Com o apoio de Flávio Carneiro e Antônio Freixo, ele investiu em publicações como Brazil Journal, operações digitais da IstoÉ e no portal PlatôBR. Também tentava assumir o controle do Correio Braziliense e do Estado de Minas, utilizando precatórios para negociar dívidas fiscais.
Essa ofensiva não se limitava ao campo empresarial; Vorcaro buscava ampliar sua influência política em Brasília, aproximando-se de figuras do centrão, como Ciro Nogueira e Michel Temer. Seu objetivo era claro: uma combinação de poder político e presença midiática poderia facilitar a venda do Banco Master para o BRB, um negócio que havia sido barrado pelo Banco Central.
O colapso do Banco Master
Na véspera de sua prisão, Vorcaro anunciou a venda do Banco Master para a financeira Fictor e investidores dos Emirados Árabes. No entanto, antes que qualquer negociação pudesse ser concretizada, o Banco Central decretou a liquidação da instituição e a prisão de Vorcaro, que foi detido no aeroporto ao tentar embarcar para Dubai.
Surpreendentemente, apesar de um dos maiores escândalos financeiros recentes, os veículos com os quais Vorcaro tinha proximidade não fizeram cobertura do ocorrido. Até o momento, Brazil Journal, PlatôBR e IstoÉ mantinham silêncio sobre o caso do Banco Master.
Geraldo Samor, que é sócio de Carneiro, negou qualquer associação com Vorcaro, reafirmando a independência editorial de suas publicações. No entanto, o mercado continua a observar com atenção os laços entre os protagonistas dessa história.
A ironia do destino
Com a queda do Banco Master, a estratégia de controle da informação se revelou irônica. A mesma reportagem que Vorcaro tentou suprimir acabou se confirmando em sua totalidade. A tentativa de criar um escudo midiático, que incluía o recolhimento de revistas e aquisição de veículos, não foi suficiente para evitar um desfecho trágico.
Este episódio deixa uma marca profunda tanto no setor financeiro quanto na imprensa brasileira: a lembrança de que, mesmo com todo o poder e influência, a verdade sempre encontrará seu caminho.