Dois estudos recentes revelam que a Petrobras possui o potencial para transformar sua trajetória, atualmente centrada em combustíveis fósseis, e assumir a liderança na transição energética brasileira. As análises, elaboradas por pesquisadores da UFRJ e do Observatório do Clima, propõem estratégias para que a empresa reduza sua dependência do petróleo e se estabeleça como referência em energias limpas.
O cenário atual, marcado pela expansão da produção de petróleo e gás no Brasil, eleva o risco de uma “bolha de carbono”, alertam os pesquisadores. Essa situação ocorreria caso a demanda global por combustíveis fósseis sofra uma queda abrupta na próxima década, levando a ativos encalhados e perdas econômicas significativas para o país. Diante desse contexto, os estudos oferecem um roteiro para a Petrobras se adaptar e prosperar em um futuro de baixo carbono.
Um dos estudos, intitulado “Questões-Chave e Alternativas para a Descarbonização do Portfólio de Investimentos da Petrobras”, foi elaborado pelos economistas Carlos Eduardo Young e Helder Queiroz, da UFRJ. Ele serve como base para o segundo estudo, “A Petrobras de que Precisamos”, produzido por 30 organizações do Grupo de Trabalho em Energia do Observatório do Clima.
Ambos os documentos enfatizam a necessidade de a Petrobras diversificar seu portfólio e alinhar seus investimentos às metas do Acordo de Paris e do Plano Clima, que visam a neutralidade de emissões de gases do efeito estufa até 2050. As pesquisas apontam que, dos US$ 111 bilhões previstos no plano de negócios 2025-2029 da estatal, apenas uma fração está destinada a energias de baixo carbono. A Petrobras contesta esse número, afirmando que o investimento é maior: US$ 16,3 bilhões.
Os economistas da UFRJ argumentam que a dependência da receita do petróleo expõe o Brasil a choques econômicos devido à volatilidade e ao caráter finito desse recurso. “A Petrobras, e o setor de petróleo e gás natural como um todo, não podem ser considerados como meros instrumentos de solução para o problema macroeconômico que abarca a questão fiscal no país”, afirma Young. Queiroz complementa, alertando para o risco associado à dependência das administrações públicas em relação à atividade petrolífera, devido à extração de recursos esgotáveis e à volatilidade dos preços.
O estudo do Observatório do Clima propõe medidas como ampliar investimentos em pesquisa de biocombustíveis e hidrogênio de baixo carbono, retomar a atuação em distribuição e em terminais de recarga para o consumidor final e priorizar energias de baixo carbono, como hidrogênio verde e combustíveis sustentáveis de aviação. Além disso, sugere alinhar o plano de negócios aos objetivos mais ambiciosos do Acordo de Paris e realocar recursos de refinarias para a ampliação de novos combustíveis.
Os pesquisadores do Observatório do Clima defendem o congelamento da expansão da extração de combustíveis fósseis em novas fronteiras, como a Foz do Amazonas, e a concentração da produção em áreas já em produção, como o pré-sal. Segundo Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, a Petrobras precisa internalizar a crise climática com mais vigor e ousadia, diversificando suas atividades e investindo em energias de baixo carbono e na transição energética.
Em resposta aos estudos, a Petrobras informou que elevou os investimentos em transição energética, destinando US$ 16,3 bilhões para projetos de baixo carbono no plano 2025 a 2029, um crescimento de 42% em relação ao plano anterior. A empresa cita investimentos em tecnologias inovadoras e recursos estimados em US$ 5,7 bilhões para energias de baixo carbono e em bioprodutos. A Petrobras também destaca um CAPEX de US$ 5,3 bilhões para descarbonização de suas operações, incluindo um fundo de US$ 1,3 bilhão dedicado a oportunidades de descarbonização.
