Em um momento de expansão histórica das exportações de proteína animal, o Brasil enfrenta um desafio crucial: a escassez de mão de obra qualificada. Frango, suíno e bovino brasileiros vêm conquistando mercados internacionais, impulsionados por clima favorável, escala de produção e avanços genéticos. A demanda global crescente por alimentos abre uma janela de oportunidade para o país se consolidar como líder no setor.
Entretanto, milhares de vagas permanecem abertas na avicultura e suinocultura, sem candidatos que preencham os requisitos. A taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, combinada com o acesso a benefícios sociais, tem levado muitos trabalhadores a optar por outras atividades, distanciando-se de empregos que demandam alta dedicação e deslocamento para áreas rurais ou frigoríficos.
Essa conjuntura exerce pressão sobre os custos das empresas, que se veem obrigadas a oferecer salários mais altos, ampliar benefícios e investir em programas de qualificação e melhorias nas condições de trabalho e infraestrutura para atrair e reter pessoal. Tais medidas, embora justas, elevam os custos de produção e comprimem as margens de lucro, em um mercado global competitivo.
A situação é agravada pelos gargalos logísticos e infraestrutura defasada que já afetam o setor. Além do aumento dos custos de produção, o transporte eficiente dos produtos até os portos continua sendo um desafio constante.
Para mitigar esse problema, especialistas apontam três caminhos complementares: qualificação profissional por meio de cursos técnicos e treinamentos em parceria com instituições rurais; valorização do trabalhador, com salários, benefícios e planos de carreira atrativos; e a automatização gradual dos processos, com a adoção de tecnologia e robótica para reduzir a dependência da mão de obra manual.
No âmbito das políticas públicas, surge a necessidade de conciliar programas sociais com incentivos ao trabalho formal no campo. A chave reside em encontrar um equilíbrio que não prejudique a competitividade do setor produtivo.
O Brasil possui o potencial de se firmar como o maior fornecedor mundial de proteína animal, mas a resolução da questão da mão de obra e da pressão sobre os custos é fundamental. Produzir mais é importante, mas garantir uma produção competitiva, sustentável e com condições justas para os trabalhadores é o que assegurará a continuidade do papel do país na alimentação global.