O apresentador Fausto Silva, conhecido como Faustão, de 75 anos, passou por um retransplante renal na última quarta-feira (6), além de um transplante de fígado já programado. A informação foi divulgada pelo Hospital Israelita Albert Einstein, onde o apresentador está internado desde 21 de maio devido a uma infecção bacteriana aguda. Este é o quarto transplante de órgão ao qual Faustão se submete em menos de um ano.
Anteriormente, Faustão já havia passado por um transplante de coração no final de 2023. Em abril de 2024, devido ao agravamento da função renal consequente de uma insuficiência cardíaca, ele foi submetido a um transplante de rim. A necessidade de um novo transplante renal levanta questões sobre as condições que levam à essa intervenção.
De acordo com o nefrologista Américo Cuvello Neto, coordenador do Centro Especializado em Nefrologia e Diálise do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o retransplante é frequentemente considerado quando o órgão transplantado inicialmente não desempenha suas funções adequadamente. “Em tese, quando um paciente transplanta um rim, ele não precisa mais de diálise. Se ele continua precisando fazer diálise [mesmo após o transplante], esse órgão transplantado não está funcionando bem”, explica Cuvello Neto à CNN, “Nesses casos, é indicado o retransplante.”
Além disso, a realização de múltiplos transplantes, como no caso de Faustão, pode impor uma sobrecarga adicional aos rins, comprometendo sua função. “Quando você faz um transplante de um órgão sólido, como o coração e o fígado, é preciso usar medicamentos imunossupressoras para manter esses órgãos. Isso pode ocasionar uma toxicidade para o rim, evoluindo para uma disfunção renal crônica”, completa o especialista.
O retransplante renal exige os mesmos cuidados pré e pós-operatórios que um transplante primário, incluindo a prevenção de infecções e o uso de medicamentos imunossupressores, que podem ser necessários em doses maiores em alguns casos. A complexidade de múltiplos transplantes também aumenta os riscos, conforme aponta Wellington Andraus, chefe do Serviço de Transplante de Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da USP.
Andraus explica que os riscos variam de caso a caso. “Existem pacientes que recebem transplante de fígado e rim ao mesmo tempo e têm boa evolução. Em outros, o risco aumenta sim, principalmente se um dos órgãos não funcionar bem e prejudicar o outro”, afirma. O especialista ressalta que a gravidade do paciente, a função dos órgãos e a resposta ao procedimento são fatores cruciais no prognóstico.
Atualmente, mais de 60 mil pessoas aguardam por um transplante de órgão no Brasil, sendo que mais de 37 mil necessitam de um transplante de rim, segundo dados do Ministério da Saúde. A fila de transplantes é única e gerenciada com base em critérios técnicos, como tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade.
Quando os critérios técnicos são semelhantes, a ordem cronológica de cadastro serve como critério de desempate. Pacientes em estado crítico recebem prioridade devido à sua condição clínica. Em São Paulo, pacientes que já passaram por um transplante e cujo órgão não está funcionando bem podem ter prioridade para um segundo transplante, uma regra que não se aplica em outros estados, conforme explica Andraus.