Cientistas revelam a relação entre estresse hídrico e os enigmáticos anéis de vegetação
Pesquisa recente revela o papel do estresse hídrico na formação dos círculos de fadas na Namíbia.
Círculos de fadas na Namíbia: um mistério resolvido?
Na Namíbia, os chamados círculos de fadas, ou anéis de fadas, têm intrigado tanto cientistas quanto nativos por gerações. Espalhados pela árida paisagem do deserto do Namibe, esses círculos se estendem do sul de Angola até o norte da África do Sul, apresentando-se como áreas circulares desprovidas de vegetação, rodeadas por um anel de gramíneas nativas conhecidas como Stipagrostis.
Com diâmetros que variam entre 2 e 10 metros, a disposição dos círculos apresenta uma regularidade surpreendente, com espaçamentos de 5 a 10 metros, lembrando o padrão do pelo de um guepardo ao serem vistos de forma aérea. Para os indígenas Himba, esses círculos são manifestações de espíritos ou divindades, enquanto pesquisadores tentavam explicar sua origem com diversas teorias, incluindo a ação de cupins e até de naves extraterrestres.
O estudo de Stephan Getzin
O ecólogo Stephan Getzin, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, trouxe novas luzes sobre a formação dos círculos de fadas através de uma pesquisa publicada em outubro de 2022. Entre 2020 e 2022, sua equipe coletou amostras de solo e de vegetação em 10 regiões do deserto, focando na dinâmica da água no solo. Os resultados mostraram que, após chuvas raras na região, as gramíneas do anel absorvem quase toda a umidade do solo, deixando a área central seca e inabitável para novas plantas.
Getzin detalhou que as gramíneas ao redor dos círculos transpiram continuamente, criando um “vácuo de umidade” que faz com que a água se desloque em direção a elas, mesmo a distâncias superiores a 7 metros. Essa dinâmica, observada nas chuvas de 2021 e 2022, explica porque a vegetação central é incapaz de se estabelecer, resultando nos enigmáticos círculos de fadas.
Evolução das estratégias vegetais
No ambiente árido do deserto, a competição por água não envolve apenas animais, mas também as plantas que desenvolvem estratégias de sobrevivência. No caso dos círculos, as gramíneas já estabelecidas monopolizam a umidade, enquanto novas sementes não conseguem se desenvolver, resultando em um espaço sem vegetação. Isso demonstra a complexidade da dinâmica ecológica em regiões onde a água é um recurso escasso.
Padrões e formações em outras partes do mundo
Esses padrões de vegetação não são exclusivos da Namíbia. Formações semelhantes foram encontradas em outras partes do mundo, incluindo Austrália, Américas e Ásia. Em diversas regiões, as plantas podem criar arranjos complexos, conhecidos como vegetação auto-organizada, que podem ser descritos como padrões de Turing, em homenagem ao matemático Alan Turing, que explorou como interações simples podem gerar grandes padrões na natureza.
Fatores que influenciam a formação
Mesmo com as descobertas de Getzin, os pesquisadores ainda debatem sobre os fatores exatos que levam à formação dos círculos de fadas. Elementos como o volume de chuvas e a inclinação do terreno são considerados influentes na organização desses padrões. Entretanto, o estudo reafirma que o estresse hídrico é fundamental para entender a dinâmica desses fenômenos naturais.
Essas descobertas ressaltam que, ao menos no caso dos círculos de fadas, as intervenções sobrenaturais permanecem fora da explicação científica, deixando o campo aberto para mais investigações sobre a fascinante relação entre flora e o clima em ambientes áridos. Embora a natureza ainda guarde muitos mistérios, a pesquisa de Getzin é um passo importante para desvendar as complexas interações ecológicas que definem o deserto do Namibe.
Fonte: www.parana.jor.br


