A expiração de patentes de medicamentos de sucesso sempre desencadeia uma corrida acirrada na indústria farmacêutica. No centro dessa disputa global está o Ozempic (semaglutida), da dinamarquesa Novo Nordisk, um dos medicamentos mais lucrativos do mundo, usado no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. A competição pelo mercado do Ozempic envolve grandes empresas, reguladores e até países inteiros.
O caso da patente do Ozempic no Canadá, onde a Novo Nordisk perdeu a exclusividade por um aparente lapso no pagamento de uma taxa, é emblemático. O valor era de apenas US$ 450. O episódio gerou especulações e críticas, com o influente blogueiro Derek Lowe, da revista Science, classificando o ocorrido como o “Erro Canadense”.
Essa aparente falha abriu caminho para a produção de genéricos, com a Sandoz, ex-divisão da Novartis, potencialmente se beneficiando. “Foi durante uma entrevista a Lowe que outro executivo importante da Big Pharma, Richard Saynor, CEO da Sandoz, comentou que a Novo Nordisk jamais havia pedido a patente da semaglutida no Canadá”, conforme citado no artigo original.
A disputa se estende aos Estados Unidos, onde a Novo Nordisk enfrenta pressão devido aos altos preços do Ozempic, com o antigo CEO sendo intimado a depor no Congresso. A China surge como um novo concorrente, com a patente expirando em 2026 e diversas empresas desenvolvendo alternativas à semaglutida.
No Brasil, a batalha pelo mercado do Ozempic promete ser intensa. A patente do medicamento expira em 2026, atraindo o interesse de farmacêuticas nacionais e estrangeiras. O país representa um mercado consumidor significativo de medicamentos para diabetes e obesidade, com o Ozempic movimentando R$ 3,7 bilhões em 2023.
A Biomm, farmacêutica brasileira, planeja lançar sua versão da semaglutida assim que a patente expirar, enquanto a Novo Nordisk investe na expansão de sua fábrica em Minas Gerais. A decisão da CONITEC de não incorporar liraglutida e semaglutida ao SUS devido ao baixo custo-efetividade adiciona uma camada de complexidade ao cenário. A disputa pelo Ozempic ilustra as tensões entre inovação, interesses comerciais e saúde pública em escala global.