IA e desemprego: por que o Brasil precisa investir em qualificação profissional urgente

A inteligência artificial e a automação estão mudando a forma de trabalhar — e quem não se adapta pode ficar para trás. O século XXI marca a quarta revolução industrial, impulsionada por tecnologias inteligentes que estão transformando o mercado de trabalho. As profissões baseadas em tarefas repetitivas estão entre as mais ameaçadas, já que máquinas e aplicativos podem substituir funções.

Nesse contexto, a empregabilidade passa a depender não apenas da experiência acumulada, mas também da capacidade de adaptação e do desenvolvimento de habilidades complementares à automação, o que evidencia a urgência de políticas públicas voltadas à requalificação profissional.

Com o avanço da automação e da digitalização, diversas profissões sofreram mudanças significativas. No setor de transporte público, por exemplo, sistemas eletrônicos de bilhetagem passaram a substituir grande parte dos cobradores. Nos supermercados, tecnologias utilizadas no exterior já são vistas por aqui, como em Chapecó-SC, em que carrinhos inteligentes permitem aos clientes registrarem produtos, somar valores e efetuar o pagamento no próprio dispositivo, sem precisar passar por um caixa convencional. Da mesma forma, a atuação de bancários foi reduzida com a popularização do internet banking e de atendimentos virtuais por chatbots.

A inteligência artificial generativa potencializa essa transformação não somente com processos, mas também ao gerar conteúdos e executar tarefas que antes dependiam de habilidades humanas específicas. Com salários baixos e perda de poder de compra, muitos brasileiros não conseguem custear cursos de qualificação ou novas graduações.

O Brasil ainda convive com milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade, e a renda média só recentemente voltou a apresentar crescimento. De acordo com o IBGE, o rendimento médio real dos brasileiros aumentou, mas a distribuição de renda permanece desigual, questões intensificadas no caso das substituições do trabalho devido ao desenvolvimento tecnológico. Soma-se a isso as estimativas do Ipea de que dezenas de milhões de famílias vivem em condição de baixa renda ou extrema pobreza.

Vemos, portanto, que a abrangência dessa discussão é nacional. Por isso, cabe também ao Estado e às instituições privadas investir em qualificação profissional e inclusão digital, ampliando oportunidades e fortalecendo a competitividade do país diante dos desafios da inovação. No Brasil, o Ministério da Educação destinou cerca de R$ 1,9 bilhão entre 2023 e 2025 para ampliar cursos técnicos e modernizar institutos federais. Internacionalmente, a União Europeia adotou políticas de requalificação digital dentro de seu plano de recuperação econômica, incentivando o aprendizado contínuo e a adaptação às novas tecnologias.

Essas iniciativas demonstram que é possível conciliar o desenvolvimento tecnológico com uma certa segurança social. Para isso, o investimento em educação e tecnologia deve ser preocupação de políticas públicas para os próximos anos. O futuro do trabalho já começou — e só a educação pode impedir que a inovação aumente ainda mais a desigualdade.

*Fernanda Servienski é especialista em Gestão de Recursos Humanos e professora do Centro Universitário Internacional – UNINTER

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