Infância conectada: os riscos do mundo digital antes dos 13 anos

Vivemos em uma era em que a conectividade tecnológica permeia todos os aspectos da vida cotidiana, seja no contexto profissional ou no pessoal. Embora estes dispositivos ofereçam oportunidades de aprendizado, entretenimento e socialização, o uso excessivo tem gerado preocupações crescentes entre educadores, profissionais da saúde e famílias.

No caso das crianças, o acesso às telas de celulares, tablets, computadores e televisores tornou-se quase inevitável. A exposição precoce à internet e às redes sociais pode gerar ansiedade, depressão e baixa autoestima, especialmente quando a criança faz um processo de comparação com padrões de beleza, sucesso e felicidade. Vale destacar que, antes dos 13 anos, o cérebro ainda está em desenvolvimento acelerado, e o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode trazer impactos negativos significativos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tempo de uso de telas como celulares e tablets recomendado para crianças de 0 a 2 anos é zero; de 2 a 5 anos, uma hora; de 5 a 10 anos, duas horas; e de 10 anos em diante, três horas.

Segundo Jannesar et al. (2023), o uso excessivo de dispositivos digitais está associado a prejuízos em funções executivas, atenção, memória, linguagem oral, regulação emocional e habilidades sociais, como empatia e resolução de conflitos. A exposição constante a estímulos visuais rápidos e interativos pode prejudicar a capacidade de concentração, reduzir o interesse por atividades físicas e afetar o sono. Além disso, o uso precoce e desregulado desses dispositivos compromete o desenvolvimento de competências fundamentais para a convivência e aprendizagem. Assim como destaca a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019), onde crianças menores de 5 anos devem ter tempo de tela extremamente limitado, sendo zero minutos para menores de 1 ano e, no máximo, uma hora por dia para crianças entre 2 e 5 anos, justamente para evitar impactos negativos no sono, na atividade física e no desenvolvimento saudável.

Os impactos estão inclusive no ambiente escolar, com o aumento de dificuldades de atenção, impulsividade e desmotivação para atividades que exigem esforço contínuo. Crianças acostumadas à gratificação imediata das telas tendem a apresentar menor tolerância à frustração e dificuldades em lidar com regras e limites. Isso desafia educadores a repensarem práticas pedagógicas e a promoverem uma educação digital crítica e consciente.

É importante destacar que o problema não está nas telas em si, mas na forma como são utilizadas. Pensar num uso moderado, supervisionado e com intencionalidade pedagógica pode ser benéfico. Os aplicativos educativos, vídeos com conteúdo de qualidade e jogos que estimulam o raciocínio lógico podem enriquecer o processo de aprendizagem.

No entanto, é fundamental que pais, responsáveis e educadores estabeleçam limites bem definidos como acordos, combinados, uso de ferramentas de controle parental e promovam o equilíbrio entre o mundo digital e as experiências concretas da infância.

Algumas dicas podem fazer a diferença para ajudar no uso equilibrado das telas, como manter os dispositivos em áreas comuns da casa, na sala ou cozinha, facilita o acompanhamento e o diálogo sobre o que as crianças acessam. Estabelecer horários específicos para o uso das telas ajuda a criar uma rotina mais saudável e evita que a tecnologia ocupe momentos importantes, como refeições e descanso. Conversar sobre os conteúdos digitais – o que elas assistem, jogam ou exploram, promove o senso crítico e fortalece os vínculos familiares.

E o mais importante: o exemplo dos pais, educadores e responsáveis conta muito. Quando os adultos usam a tecnologia com equilíbrio, os filhos tendem a seguir o mesmo caminho, aprendendo a lidar com o mundo digital de forma mais consciente e segura.

 

*Genoveva Ribas Claro é doutora e mestre em Educação, psicóloga, pedagoga e professora dos cursos de Psicopedagogia, Pedagogia e Educação Especial na Uninter.

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