Análise revela discrepâncias em números apresentados pelo presidente sobre investimentos na economia americana.
Trump menciona investimentos de US$ 21 trilhões, mas análise aponta que números não se confirmam.
Em 5 de dezembro de 2025, o presidente Trump fez alegações ousadas sobre investimentos nos Estados Unidos, citando cifras que alcançam até US$ 21 trilhões. Durante uma reunião com o príncipe saudita Mohammed bin Salman, Trump anunciou que esse valor seria o montante investido na economia americana em um ano. No entanto, uma análise realizada pela CBS News revelou que tais números não são respaldados por dados reais.
O presidente afirmou que, em apenas 10 meses, já teríamos US$ 18 trilhões sendo investidos. No entanto, não há evidências que apoiem essas declarações. A revisão dos dados mostrou que, enquanto empresas e governos estrangeiros anunciaram projetos significativos desde a posse de Trump, a Casa Branca não apresentou documentação que prove que os investimentos totais se aproximem de US$ 21 trilhões — uma quantia que corresponderia a cerca de dois terços do PIB anual dos EUA.
A lista do governo sobre investimentos importantes “possibilitados pela liderança de Trump” totaliza US$ 9,6 trilhões, mas até esse valor é considerado exagerado. A lista inclui investimentos anunciados sob a administração de Biden e metas comerciais para as quais os EUA também têm responsabilidade. O governo não respondeu diretamente às perguntas sobre as inclusões confusas ou as discrepâncias entre os números apresentados.
“Os acordos de Trump garantiram trilhões em investimentos para o setor americano, trazendo novas oportunidades comerciais e exportações,” disse o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai. No entanto, dados federais indicam que os níveis de investimento corporativo estão em linha com os do ano anterior, com projeções de mais de US$ 5 trilhões em 2025.
O US$ 20 trilhões mencionados por Trump não aparece nos dados disponíveis. A lista do governo inclui compromissos corporativos que totalizam mais de US$ 3 trilhões, mas muitos dos maiores investimentos foram anunciados anos antes de Trump assumir a presidência, com apoio federal sob a administração de Biden. Por exemplo, um investimento de US$ 200 bilhões da Micron Technology em fabricação de semicondutores foi parcialmente anunciado em 2022, validado pelo Chips and Science Act de Biden.
Outro caso discutido foi o investimento de US$ 16 bilhões da GlobalFoundries em produção de chips nos EUA, dos quais somente US$ 3 bilhões são novos compromissos para este ano. O restante foi previamente anunciado e é apoiado por créditos fiscais do mesmo ato mencionado. Além disso, o governo também reivindica investimentos significativos em energia limpa, apesar de suas políticas terem prejudicado projetos no setor.
A administração listou um compromisso de US$ 1,7 bilhão da Invenergy para um projeto de transmissão de energia limpa, anunciado em maio, mas em julho, o Departamento de Energia dos EUA cancelou uma garantia de empréstimo de US$ 4,9 bilhões, que havia sido emitida durante a administração de Biden. A Invenergy não comentou se esse cancelamento afetou o investimento.
Adicionalmente, a lista da Casa Branca contém erros, incluindo uma contribuição de US$ 3 bilhões da Kraft Heinz, que aparece duplicada. Governos estrangeiros somam quase US$ 6 trilhões na lista, mas muitos dos maiores valores referem-se a metas comerciais e não a investimentos concretos.
Críticos também questionam se a Arábia Saudita realmente pode alcançar o compromisso de investir US$ 1 trilhão nos EUA, especialmente com a queda dos preços globais de energia. Dados históricos indicam que promessas anteriores de compra de bens americanos não foram cumpridas em sua totalidade.
No geral, a análise sugere que os gastos reais com investimentos, diferentemente dos compromissos anunciados, estão em níveis similares aos de 2024. Estima-se que o investimento direto estrangeiro real seja de cerca de US$ 145 bilhões no primeiro semestre do ano, quase idêntico aos US$ 144 bilhões do ano anterior, conforme os dados da BEA. Embora o volume de promessas de investimento tenha aumentado sob a presidência de Trump, a realidade dos investimentos concretos pode ser muito diferente das expectativas criadas. Os especialistas reiteram que compromissos anunciados nem sempre se concretizam em investimentos materiais na economia.


