O jejum prolongado, que envolve abstinência alimentar por longos períodos, tem atraído muitos interessados em emagrecimento e potenciais benefícios à saúde. No entanto, essa prática desencadeia transformações significativas no organismo, que vão além da simples falta de energia. Entenda como o corpo reage a essa restrição e quais os riscos envolvidos.
Após a última refeição, o corpo permanece em estado alimentado, absorvendo nutrientes e mantendo altos níveis de glicose e insulina. O excesso de açúcar é então armazenado como glicogênio no fígado e nos músculos, funcionando como uma reserva de energia.
“Passadas três ou quatro horas, entramos em uma fase inicial de jejum, na qual a insulina começa a cair e o glucagon sobe, estimulando a quebra do glicogênio para manter a glicose no sangue”, explica a endocrinologista Carolina Janovsky. Essa reserva, no entanto, é finita.
Quando o glicogênio se esgota, o corpo passa por uma adaptação metabólica crucial, começando a utilizar a gordura armazenada como principal fonte de energia. O fígado converte essa gordura em corpos cetônicos, que podem ser utilizados por quase todos os tecidos, inclusive o cérebro. Esse processo é conhecido como cetose.
No jejum prolongado, ocorrem outras adaptações. Há queda da insulina, aumento do glucagon e maior quebra da gordura para servir de energia. O corpo também inicia a produção de glicose a partir de proteínas e gorduras, em um processo chamado gliconeogênese, para manter as funções vitais. Além disso, a autofagia, um mecanismo de limpeza celular que recicla componentes danificados, entra em ação, podendo favorecer a saúde e a longevidade.
É crucial estar atento aos sinais de alerta. Fadiga extrema, tontura intensa, fraqueza muscular acentuada, dores de cabeça muito fortes, náuseas, palpitações e confusão mental indicam que o jejum pode estar ultrapassando o limite seguro. A prática sem supervisão pode levar à desidratação, desequilíbrio de eletrólitos, arritmias, insuficiência renal, hipoglicemia, perda de massa muscular, deficiências nutricionais e até síndrome de realimentação.
Embora o jejum intermitente apresente evidências mais consistentes de benefícios, como melhora da sensibilidade à insulina e redução de gordura corporal, protocolos acima de 48 horas ainda carecem de consenso sobre vantagens, e os riscos podem superar os ganhos. “Para pessoas saudáveis e bem orientadas, o jejum prolongado pode trazer efeitos positivos, mas para quem tem doenças crônicas ou condições específicas, o risco é maior. Por isso, é fundamental ter acompanhamento médico”, conclui Felipe César, nutrólogo.