Gerson de Melo Machado, de 19 anos, tinha 16 passagens e transtornos mentais não tratados em João Pessoa
Gerson de Melo Machado morreu após invadir jaula de leoa em João Pessoa, possuía 16 passagens e enfrentava transtornos mentais não tratados.
Jovem morto por leoa em João Pessoa tinha 16 passagens policiais e transtornos mentais
No domingo, 30 de novembro de 2025, Gerson de Melo Machado, conhecido como “Vaqueirinho”, de 19 anos, morreu após invadir a jaula de uma leoa no Parque Arruda Câmara, conhecido como Bica, em João Pessoa, Paraíba. Essa tragédia expôs um histórico de vulnerabilidade extrema e transtornos mentais não tratados que marcaram sua vida.
Segundo a delegada Josenice de Andrade Francisco, Gerson acumulava 16 passagens policiais, principalmente por danos e furtos pequenos. Embora apresentasse sinais claros de transtornos mentais, ele não recebeu o tratamento adequado; um pedido de internação psiquiátrica feito na semana anterior não foi apreciado a tempo.
Histórico de vida difícil e sonhos incomuns de Gerson de Melo Machado
A conselheira tutelar Verônica Oliveira acompanhou Gerson por oito anos, desde seus 10 anos de idade, e destacou que ele cresceu em condições severas, sem apoio familiar, vivendo em extrema pobreza. Filho de uma mãe com esquizofrenia e de avós com compromissos mentais, ele enfrentava uma realidade difícil e um sistema de proteção social insuficiente.
Verônica relata que Gerson frequentemente se entregava à polícia voluntariamente e que seu sonho de infância era cuidar de leões na África, manifestando o desejo de fazer a viagem a pé, o que era difícil para os agentes policiais compreenderem. Em uma ocasião extrema, ele tentou acessar clandestinamente um avião para realizar esse sonho.
Circunstâncias do ataque da leoa e resposta do zoológico
De acordo com nota oficial da Prefeitura de João Pessoa, Gerson escalou uma parede de mais de seis metros, ultrapassou as grades de segurança e entrou no recinto da leoa utilizando uma árvore como apoio. Após o ataque fatal, a Polícia Militar e o Instituto de Polícia Científica da Paraíba foram acionados para os procedimentos necessários.
O Parque Arruda Câmara foi fechado imediatamente após o incidente e as visitas suspensas, sem previsão de reabertura. A prefeitura iniciou investigação para apurar as circunstâncias do caso e manifestou solidariedade à família da vítima, reforçando que o zoológico cumpre todas as normas técnicas e de segurança vigentes.
Rede de proteção e desafios no acolhimento institucional
Apesar da vulnerabilidade de Gerson, ele não conseguiu ser adotado, o que é comum entre jovens com transtornos mentais em situação de acolhimento institucional. A preferência da sociedade por crianças “perfeitas” dificulta que adolescentes como ele encontrem famílias adotivas.
Os transtornos de Gerson só foram formalmente reconhecidos quando ele entrou no sistema socioeducativo, indicando falhas no acompanhamento precoce e no suporte necessário para seu desenvolvimento. A falta de apoio familiar e social contribuiu para o agravamento de sua condição e para os riscos que culminaram na tragédia.
Reflexões sobre políticas públicas e saúde mental
O caso de Gerson evidencia a importância da identificação e do tratamento adequado de transtornos mentais, especialmente em jovens em situação de vulnerabilidade social. Além disso, reforça a necessidade de políticas públicas eficazes que integrem assistência social, saúde mental e proteção à infância e adolescência.
A tragédia suscita debates sobre a segurança em espaços públicos como zoológicos e a responsabilidade das autoridades em proporcionar atendimento integral a pessoas em situação de risco, prevenindo fatos como esse.