Por Dr. Paulo Roberto Benites
Aprendi desde cedo a me comunicar com palavras.
Com o tempo, entendi que também falava com gestos, olhares, silêncios, com o corpo que se fecha ou se entrega.
Mas existe um outro nível de comunicação, mais silencioso, mais profundo — aquele que acontece dentro de nós.
Enquanto falo com frases, minhas células trocam sinais.
Enquanto formulo pensamentos, meus sistemas operam mensagens em milésimos de segundo, regulando, corrigindo, protegendo.
Há um diálogo constante acontecendo dentro do meu corpo e muitas vezes não presto atenção.
Existe uma linguagem invisível da vida.
No interior do meu organismo, tudo é comunicação. Mas nada soa como discurso.
As palavras dão lugar às moléculas.
As frases se transformam em impulsos, hormônios, sinais elétricos, proteínas.
O meu sistema nervoso, por exemplo, usa neurotransmissores como mensageiros químicos para enviar instruções aos meus músculos, meu coração, meu cérebro, à minha pele.
Cada pensamento, cada emoção, cada movimento, é precedido por uma conversa interna.
Já o meu sistema endócrino envia comandos mais lentos e duradouros — os hormônios.
Eles dizem quando é hora de crescer, de dormir, de reagir ao estresse, de se acalmar, de amar.
São como cartas escritas em papel fino, mas com tinta permanente.
O sistema imunológico, por sua vez, é um dos mais eloquentes.
Ele fala comigo por meio das citocinas — entre elas, as famosas interleucinas.
Elas coordenam a defesa do meu corpo como se fossem estrategistas de guerra: recrutam, ativam, inflamam, protegem, limpam.
São sinais enviados célula por célula em momentos de crise ou cura.
E há ainda os sinais elétricos do meu coração, os microRNAs que silenciam genes, as junções celulares que permitem que células vizinhas troquem informações diretamente, como vizinhos conversando por janelas interligadas.
O meu corpo é uma orquestra de sinais.
E sua música é a vida acontecendo.
Quando não escuto, adoeço.
O meu corpo fala o tempo todo e as vezes não escuto.
O que começa como um leve incômodo vira dor.
O que seria apenas um alerta vira inflamação.
O que poderia ser cuidado com atenção vira diagnóstico.
Não porque o corpo errou. Mas porque ignoro seus sussurros e só reajo aos gritos.
A maioria das doenças que atendo não começa com uma bactéria, um vírus ou uma falha genética.
Começa com algo mais sutil: um pedido não ouvido.
Um limite ultrapassado.
Um estresse crônico ignorado.
Uma emoção engolida, um “não” não dito, uma mágoa não dissolvida.
E então o corpo, sábio como é, começa a enviar sinais:
• Um aperto no peito.
• Uma falta de ar sem causa aparente.
• Uma alergia que não existia.
• Uma insônia que insiste.
Muitos tratam apenas o sintoma.
Mas eu aprendi a perguntar:
“O que o seu corpo está tentando dizer com isso?”
E essa pergunta, se feita com escuta verdadeira, costuma abrir portas que nenhum exame revela.
Na Medicina Resolutiva e Transformadora, procuro escutar com atenção.
A cura começa na escuta
Vivemos em um tempo onde o excesso de informação nos afastou da informação mais importante: a que vem de dentro.
A cura não está apenas no remédio certo.
Está em restabelecer a comunicação com o próprio corpo.
Em reaprender a escutá-lo antes que ele precise gritar.
Em compreender que a febre não é o problema — é o pedido de ajuda.
Que a dor não é inimiga — é linguagem.
E que, muitas vezes, a verdadeira inflamação não está nos tecidos, mas nos relacionamentos, no estilo de vida, nos pensamentos represados.
O corpo não mente
Se há uma certeza que trago desses quase 50 anos de prática médica é essa:
o corpo nunca mente.
Ele não sabe ser político, não sabe esconder o que sente, não mascara verdades.
Ele apenas traduz, em biologia, aquilo que a alma ainda não conseguiu dizer.
Escutar o corpo é escutar a verdade mais pura de quem somos.
E é por isso que, em cada atendimento, busco mais do que um sintoma:
Busco sentido.
Porque onde muitos veem doença, eu vejo uma tentativa de reorganização.
Onde há dor, há um chamado.
E onde há escuta — há chance de cura.
Dr Paulo Benites.
Pneumologista Alergista e Imunologista.
CRM SC 2631| RQE 213 / 5931



