A reflexão ganha profundidade a partir dos três lugares espirituais destacados por Marcelino Champagnat: o presépio, a cruz e o altar
O período do Advento, que prepara a celebração do Natal, se apresenta como um momento privilegiado para refletir sobre os símbolos centrais da fé cristã e sobre o impacto que eles exercem na vida social, cultural e educativa. No universo marista, essa reflexão ganha profundidade a partir dos três lugares espirituais destacados por Marcelino Champagnat: o presépio, a cruz e o altar. Esses elementos não se limitam à devoção. Eles oferecem um caminho ético e pedagógico capaz de orientar práticas educativas comprometidas com os direitos humanos, a dignidade de cada pessoa e a construção da paz.
O presépio revela a escolha de Deus por assumir a fragilidade humana. Em O Sofrimento de Deus, o teólogo Jürgen Moltmann afirma que a proximidade divina não se manifesta por meio do poder, mas pela solidariedade com a condição humana. A cena de Belém mostra um Deus que se une ao humano na forma mais simples e vulnerável. No campo da educação, essa imagem inspira práticas que acolhem e valorizam cada estudante. A encíclica Fratelli Tutti, do papa Francisco, reforça essa perspectiva ao defender que toda pessoa possui um valor sagrado que não pode ser ignorado. Assim, o presépio recorda que escolas humanizadoras são aquelas que escutam, protegem e garantem espaço para todos, especialmente em contextos marcados pela desigualdade.
A cruz representa o ponto mais profundo da solidariedade divina com o sofrimento do mundo. Moltmann destaca que Deus não observa a dor à distância. Ele participa dela por meio de Cristo crucificado. Essa compreensão transforma a maneira de olhar para a injustiça e para a responsabilidade ética. Na educação, a cruz motiva a formação de pessoas sensíveis ao sofrimento alheio e comprometidas com a justiça social. Esse pensamento se aproxima da encíclica Pacem in Terris, de João XXIII, que afirma que a paz nasce da verdade, da justiça, do amor e da liberdade. Aplicado à escola, esse princípio estimula a criação de ambientes que desenvolvem responsabilidade social, pensamento crítico e participação cidadã.
O altar simboliza a comunhão e a presença que se renova na Eucaristia. Nele, Cristo se oferece e une a comunidade. Essa compreensão aparece em Laudato Si’, quando Francisco recorda que tudo está interligado e que a vida se sustenta na comunhão entre pessoas, povos e a criação. Nas práticas educativas, o altar inspira o diálogo, a convivência pacífica e o respeito às diferenças. Ele representa a mesa onde todos têm lugar e onde se aprende que a partilha e o encontro constroem relações mais justas. Essa perspectiva se harmoniza com as diretrizes brasileiras de educação, que incentivam experiências de formação integral.
O conjunto formado pelo presépio, pela cruz e pelo altar cria um itinerário espiritual e pedagógico que ajuda a compreender o Advento e seus desdobramentos na ação educativa. Do presépio nasce a centralidade da dignidade humana. Da cruz surge o compromisso com a justiça e a solidariedade. Do altar brota a fraternidade que sustenta a convivência democrática. Esses três elementos dialogam com a tradição marista e com o magistério recente da Igreja, reforçando que fé, cuidado com o outro e responsabilidade social caminham juntos.
Em um momento marcado por desafios éticos, culturais e ambientais, a reflexão proposta pelo Advento e iluminada por Champagnat orienta a educação para uma missão que integra espiritualidade, humanização e compromisso com os direitos humanos. Assim, os três lugares se tornam referências contemporâneas para uma prática educativa capaz de promover dignidade, transformar realidades e fortalecer vínculos de fraternidade.
O Advento, portanto, ultrapassa o simples preparo para o Natal. Ele inspira um modo de educar que reflete a ação de Deus no mundo: aproximar-se, solidarizar-se e participar da vida humana para transformá-la.
Fonte e foto: Assessoria de Imprensa.



