O Estádio do Pacaembu, palco de momentos gloriosos do futebol brasileiro, também guarda em sua memória um capítulo sombrio. Há 30 anos, em 20 de agosto de 1995, o gramado sagrado se transformou em cenário de uma batalha campal entre torcedores de Palmeiras e São Paulo, manchando para sempre a história do esporte paulista.
O fatídico dia começou com a decisão da Supercopa de Juniores entre os rivais, seguida por um confronto entre Corinthians e Bragantino pelo Campeonato Brasileiro. A combinação de fatores como a superlotação, a fragilidade da estrutura do estádio e a falta de segurança culminaram em uma tragédia que expôs a face mais brutal da rivalidade no futebol.
A partida da Supercopa, que terminou com a vitória do Palmeiras na prorrogação, serviu de estopim para o caos. A invasão do gramado por palmeirenses e as provocações aos torcedores são-paulinos desencadearam uma reação violenta, transformando o estádio em um campo de guerra.
“Você acaba vendo coisas assim que você nunca imagina na vida… E eu fiquei agachado embaixo ali no banco. E as pedras batendo. Mas pedras enormes, madeira. Tudo acabou sendo atirado”, relembrou o jornalista Osvaldo Paschoal, testemunha ocular da barbárie.
O confronto deixou um saldo de mais de 100 feridos e a morte do jovem são-paulino Márcio Gasparin da Silva, de apenas 16 anos. A tragédia gerou debates sobre a violência nos estádios e a necessidade de medidas mais eficazes para conter a fúria das torcidas organizadas. O promotor Fernando Capez, à época, determinou a extinção da Mancha Verde e da Independente.
Apesar das medidas tomadas, como a implementação de torcida única em clássicos, a violência nos estádios persiste, muitas vezes transferida para emboscadas fora das arenas. Para Capez, “é preciso monitorar as redes sociais, a deep web, investigar com profundidade, para evitar que as torcidas marquem emboscadas”.
Trinta anos depois, a batalha do Pacaembu continua sendo um lembrete doloroso da incapacidade da sociedade brasileira de lidar com a violência no futebol. Como resume Osvaldo Paschoal, “o nosso problema é cultural. O nosso problema é a escolaridade. Educação”. A tragédia ecoa como um alerta para a necessidade de investir em educação e em políticas públicas que promovam a cultura da paz nos estádios e fora deles.