Há médicos que escolhem a profissão. E há aqueles mais raros para quem a Medicina se impõe antes mesmo de qualquer decisão consciente — quase como um chamado silencioso, observado ainda nos corredores da infância. A trajetória de Maurílio Brandão pertence a este segundo grupo. Não nasce do impulso, mas da contemplação. Do olhar atento de um menino que, ao ver passar um médico de jaleco branco no ambulatório de uma pequena cidade mineira, compreendeu que ali havia mais do que um ofício: havia postura, responsabilidade e sentido.
O primo do pai, Dr. Brandão, não foi apenas uma referência familiar. Foi, como o próprio Maurílio define, um mentor intelectual. Não pelo discurso, mas pelo exemplo. Competência sem alarde, serenidade sem espetáculo, discrição como ética. Talvez tenha sido ali que se formou o alicerce de uma medicina que, décadas depois, se distanciaria da pressa, do protocolo cego e da técnica vazia de escuta.
Como todo espírito inquieto, Maurílio também flertou com outros caminhos. A engenharia mecânica, os carros, a precisão das máquinas. Mas a Medicina se consolidou não como escolha, e sim como destino assumido. Mesmo uma pausa simbólica — um ano viajando pela Europa, quase uma despedida da vida descompromissada — não desviou o eixo. Ao retornar ao curso, voltou com a consciência clara de que o que o aguardava era trabalho árduo, dedicação integral e renúncias. E ainda assim, voltou convicto.
A opção por uma atuação generalista não foi casual. Após sentir o fascínio da cirurgia e da neurocirurgia, Maurílio escolheu o território mais complexo de todos: o humano em sua totalidade. A Medicina de Família, a formação em saúde pública, a medicina do trabalho, a homeopatia — seu berço terapêutico — desenharam um médico que não se satisfaz com partes isoladas, mas busca compreender sistemas, histórias e sentidos.
A ampliação do olhar seguiu naturalmente para a Medicina Tradicional Chinesa, a nutri-endocrinologia funcional, a medicina quântica, a biofísica, a bioressonância. Não como modismos, mas como ferramentas integrativas. Cada nova camada de conhecimento não substituiu a anterior — somou. Construiu uma prática vitalista, energética, profundamente clínica no sentido mais clássico da palavra: aquela que observa, correlaciona e respeita o tempo do organismo.
Há cerca de doze anos, um ponto de inflexão definitivo. A Nova Medicina Germânica não apenas ampliou sua percepção: reorganizou sua prática. O impacto foi tão profundo que transformou não só a conduta clínica, mas a própria identidade institucional de seu trabalho. A antiga clínica de saúde e dor tornou-se uma clínica de educação em saúde. Porque curar, ali, passou a significar ensinar a compreender.
Esse percurso não conduziu Maurílio à arrogância do “saber”, mas à humildade do aprendiz permanente. Após dezenas de milhares de atendimentos, sua fala não é a de quem se coloca acima, mas a de quem agradece. Aos pacientes que emprestaram suas histórias. Às vidas que confiaram seus processos. À medicina que ainda pode ser arte.
Hoje, sua missão é clara: provocar uma mudança paradigmática. Retirar o paciente da posição passiva. Libertar médicos do engessamento protocolar. Resgatar a Medicina do aprisionamento econômico e devolvê-la à sua vocação original: o aperfeiçoamento do ser humano. Não como discurso ideológico, mas como prática diária.
Em tempos de pressa, Maurílio Brandão caminha na contramão. E talvez seja exatamente isso que o torne necessário. Porque algumas medicinas não nascem na universidade. Nascem no olhar. E permanecem como compromisso ético até o fim.
