Quando a mente sofre, o corpo está falando: a nova fronteira da saúde neuropsíquica

Por Pedro Ernesto

Ansiedade, insônia, depressão, esgotamento mental e dificuldades de concentração tornaram-se praticamente epidêmicos. O que chama atenção, porém, é que muitos desses pacientes percorrem consultórios, realizam exames e recebem a mesma resposta: “Está tudo normal”. Mas o sofrimento continua.

Segundo médicos que adotam uma visão mais ampla da fisiologia humana, o problema pode estar em algo que a medicina tradicional raramente avalia de forma sistemática: o estado de regulação do sistema nervoso e do terreno biológico como um todo.

Um dos pontos centrais dessa discussão envolve a amígdala cerebral, estrutura profundamente relacionada às respostas de medo, alerta e estresse. Estudos científicos têm mostrado que experiências estressantes intensas ou repetidas podem deixar a amígdala “marcada” epigeneticamente, tornando-a hiper-reativa. Nessas condições, o cérebro passa a responder de forma exagerada não apenas a grandes ameaças, mas também a estímulos inflamatórios ou situações cotidianas relativamente pequenas.

Essa hiperativação sustentada não ocorre isoladamente. A amígdala conversa diretamente com o sistema nervoso autônomo, com o eixo hormonal do estresse e com o sistema imunológico. Quando há inflamação crônica de baixo grau, o cérebro interpreta o ambiente como permanentemente hostil, mantendo o organismo em estado de alerta contínuo.

A ciência também tem demonstrado que a neuroinflamação interfere diretamente na síntese e no metabolismo de neurotransmissores essenciais, como a serotonina, a dopamina e até a melatonina. Processos inflamatórios alteram a disponibilidade de triptofano, afetam vias enzimáticas e prejudicam o funcionamento mitocondrial, impactando humor, motivação, foco e qualidade do sono. Não é raro que o paciente apresente sintomas depressivos, ansiedade e insônia mesmo sem alterações estruturais detectáveis em exames convencionais.

Nesse contexto, ferramentas como a análise da variabilidade da frequência cardíaca (HRV) ganham relevância, pois permitem avaliar objetivamente como o sistema nervoso autônomo está respondendo ao estresse. Uma baixa variabilidade costuma indicar predomínio de hiperativação simpática, quadro frequentemente observado em pessoas com ansiedade crônica, burnout e distúrbios do sono.

De acordo com o médico João Ricardo Yamasita, que atua com uma abordagem médica focada na regulação neurobiológica e no cuidado integrado do paciente, muitos quadros neuropsíquicos persistem não por falta de medicação, mas porque o organismo permanece em um estado inflamatório e autonômico desorganizado. “Quando o sistema nervoso está constantemente em alerta, o cérebro perde a capacidade de se autorregular, e isso se reflete diretamente no humor, no sono e na cognição”, explica.

Além disso, terapias complementares reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, como a ozonioterapia médica, vêm sendo utilizadas como suporte em dores, processos inflamatórios e distúrbios funcionais. Estudos científicos indicam que o ozônio pode estimular vias antioxidantes endógenas, como a ativação do fator NRF-2, melhorar a microcirculação e modular respostas inflamatórias — mecanismos que influenciam diretamente a saúde cerebral.

Outro campo em expansão é o da neuromodulação não invasiva, que busca auxiliar o sistema nervoso a recuperar padrões mais organizados de funcionamento, sem intervenções agressivas. Associam-se a isso estratégias de suporte metabólico, correção de deficiências nutricionais, equilíbrio do eixo intestino-cérebro e intervenções voltadas à saúde mitocondrial.

Na prática clínica, observa-se que muitos pacientes melhoram não por “tratar um diagnóstico isolado”, mas porque conseguem reduzir a neuroinflamação, reorganizar o sistema nervoso e restaurar a capacidade de autorregulação do organismo. Dormem melhor, recuperam clareza mental, reduzem a ansiedade e voltam a ter energia — sinais claros de que o corpo retomou seu equilíbrio funcional.

Essa mudança de paradigma não substitui a psiquiatria nem a medicina convencional. Pelo contrário: amplia o olhar, reconhecendo que saúde mental não se sustenta sem equilíbrio biológico. Trata-se de um movimento alinhado ao que a ciência contemporânea vem demonstrando sobre inflamação crônica, estresse oxidativo, epigenética e funcionamento do sistema nervoso.

Talvez a grande pergunta do nosso tempo não seja apenas “qual é o diagnóstico?”, mas sim: “em que estado de regulação está esse organismo?”. A resposta a essa pergunta pode definir o futuro do cuidado em saúde neuropsíquica.

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