O empreendedorismo feminino cresce em ritmo acelerado no Brasil e já representa quase metade dos novos negócios do país, segundo o Relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Brasil 2024–2025. Mais do que gerar renda, ele se consolida como um movimento de autonomia, propósito e transformação social.
Entre 2023 e 2024, a taxa de empreendedorismo feminino cresceu 26% entre os negócios iniciais, superando a expansão dos empreendimentos masculinos. Atualmente, as mulheres representam 46,8% dos empreendedores em estágio inicial e 38,2% entre os já estabelecidos, demonstrando capacidade de consolidação ao longo do tempo.
O perfil dessas empreendedoras reflete um fenômeno de inclusão social e resiliência: muitas têm baixa escolaridade, renda de até três salários-mínimos e idade superior a 45 anos. São, em grande parte, chefes de família que encontraram no próprio negócio uma alternativa para gerar renda e reafirmar seu papel produtivo.
Elas estão à frente de negócios que geram renda, fortalecem o consumo local e inspiram novas gerações. Esse avanço vai além dos números — expressa uma mudança de mentalidade no ambiente de negócios, em que empreender deixa de ser apenas uma resposta à falta de oportunidades no mercado formal para se tornar um caminho de autonomia, impacto e afirmação.
Apesar do avanço, os desafios persistem. A maioria atua em setores de menor margem de lucro, como comércio, alimentação, estética e serviços pessoais, e enfrentam barreiras no acesso a crédito, tecnologia e redes de apoio. Ainda assim, a digitalização surge como aliada importante: os dados revelam que mais de 80% das empreendedoras utilizam redes sociais e plataformas digitais para vender seus produtos, o que representa uma oportunidade de competitividade quando associada à capacitação e a políticas de incentivo.
Os dados do GEM 2024–2025 revelam um movimento consistente de empoderamento econômico e social. As mulheres estão ocupando espaço no empreendedorismo com propósito 74,6% delas afirmam empreender para fazer diferença no mundo e, ao fazê-lo, impactam positivamente suas comunidades. Esse movimento não é apenas econômico, mas também político, pois afirma o papel das mulheres como agentes de transformação.
O empreendedorismo feminino no Brasil reafirma a busca das mulheres por autonomia e reconhecimento, representando um caminho concreto para a diminuição das desigualdades de gênero. Mais do que gerar renda, empreender tem se tornado uma forma de afirmar identidades, conquistar espaço e exercer poder de decisão econômica.
O futuro do empreendedorismo brasileiro depende da capacidade de transformar essa energia criativa em oportunidades reais de emancipação e desenvolvimento, reconhecendo nas mulheres não apenas protagonistas econômicas, mas agentes fundamentais de um crescimento mais justo e sustentável.
*Graziele Ueno é administradora e Turismóloga, especialista em Educação, mestre em Turismo e Negócios e Doutora em Tecnologia e Sociedade com foco em Desenvolvimento. Além disso, é professora e coordenadora de curso no Centro Universitário Internacional Uninter.