Ruy Ferraz sempre foi reconhecido por sua postura firme e combativa no enfrentamento ao PCC. Sua trajetória profissional foi marcada por operações de alto risco contra a facção criminosa, nas quais não hesitou em expor-se à linha de frente, bem como em cooperar ativamente com as demais instituições policiais sempre que acionado. Tive a grata satisfação de ombrear com esse Delegado em diversas ocasiões durante minha carreira na Polícia Federal.
Seu assassinato brutal em Praia Grande, em uma ação cinematográfica, não pode ser visto como um crime eventual, mas como uma resposta cirúrgica e calculada da facção a essa trajetória de enfrentamento — algo que somente poderia ser executado sob o crivo da mais alta cúpula da organização criminosa: a sintonia geral final.
Esse mesmo núcleo criminoso, composto pelas lideranças da facção, foi alvo de uma operação policial integrada em fevereiro de 2019. Com participação ativa das instituições de segurança pública do Estado e sob a coordenação e execução do MJSP, extraímos de São Paulo, transportamos em aviões militares e internamos, em três diferentes presídios federais e em um único dia, os 22 líderes do PCC — a Operação Imperium, uma referência ao império da lei.
Nos últimos dias, novas operações policiais atingiram o coração financeiro do PCC, desarticulando mecanismos sofisticados de investimentos, movimentação e lavagem de capitais. A facção modernizou suas ferramentas, operando com fintechs, fundos de investimento, adquirindo ativos estratégicos como um terminal portuário e expandindo para outros setores formais da economia, com o objetivo de multiplicar lucros, diversificar sua atuação e dar aparência lícita a seus ganhos. O assassinato de Ruy Ferraz deve ser entendido nesse contexto: um recado violento da organização contra quem ousa atacar sua base financeira.
O que vemos agora é a tentativa do PCC de reverter esse equilíbrio pela via do terror. O assassinato de Ruy Ferraz não foi contra uma pessoa apenas, mas contra a própria ideia de que o Estado pode agir com firmeza e inteligência para desarticular o crime. A resposta, portanto, precisa estar à altura: coordenada, estratégica e sem espaço para hesitação. O recado foi dado — mas cabe às instituições mostrar que a mensagem não será aceita.
Wagner Mesquita
Consultor na Delta Intelligence LLC