Alerta para mais de 30 mil novos casos anuais no Brasil reforça a importância do diagnóstico precoce, prevenção ativa e ações integradas de saúde da mulher
Em setembro, o país volta os olhos para um grupo de doenças que representam um grave desafio para a saúde feminina: os cânceres ginecológicos, incluindo os tumores de colo do útero, ovário, endométrio, vagina e vulva. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 30 mil mulheres recebem, todos os anos, o diagnóstico de algum desses tipos de câncer no Brasil. Em números previstos para 2024, são esperados cerca de 17.000 novos casos de câncer de colo do útero, 7.800 de endométrio, 7.000 de ovário, além de aproximadamente 1.000 e 1.200 casos de câncer vaginal e vulvar, respectivamente. Estes dados realçam a urgência de intensificar campanhas como a “Setembro em Flor”, idealizada para promover conscientização em todo o país.
Segundo o oncologista clínica do Centro de Oncologia do Paraná (COP), Emanuella Benevides Poyer, a importância do diagnóstico precoce e da prevenção não pode ser subestimada, já que identificar alterações antes que evoluam para tumor maligno aumenta significativamente o sucesso do tratamento e a qualidade de vida das pacientes. “No câncer de colo do útero, por exemplo, o exame de Papanicolau (e o teste de DNA-HPV) detecta alterações celulares precursoras com alto potencial de reversão. Aliado à vacinação, que protege contra os principais tipos de HPV associados à doença, o rastreamento regular é uma barreira eficaz contra esse câncer. O diagnóstico precoce é a nossa maior aliada no combate aos cânceres ginecológicos. Essa detecção antecipada amplia as opções terapêuticas e eleva as taxas de cura, tornando a prevenção um pilar central da saúde da mulher”, afirma.
Já para os cânceres de endométrio, ovário, vagina e vulva, a prevenção exige atenção aos sinais e fatores de risco. O câncer de endométrio, por exemplo, está associado a obesidade, sedentarismo e terapia hormonal. Já o câncer de ovário é conhecido como “tumor silencioso”, devido à ausência de sintomas específicos no início e à falta de métodos de rastreamento eficazes. Isso reforça a necessidade de acompanhamento ginecológico constante e atenção a mudanças sutis no organismo. “Nos tumores como o de ovário, o grande desafio é a ausência de rastreamento eficiente. Por isso, a observação cuidadosa dos sintomas, somada ao histórico familiar, pode ser decisiva para encaminhar a paciente ao diagnóstico no tempo certo”, orienta a médica.
Como se prevenir
Dra. Emanuella Benevides Poyer explica que a prevenção ativa passa ainda pela vacinação contra o HPV, indicada para meninas e meninos entre 9 e 14 anos no SUS, e disponível também em clínicas privadas até os 45 anos. Além disso, a adoção de hábitos de vida saudáveis, como manter peso adequado, praticar atividade física regular e adotar uma alimentação equilibrada, desempenha papel importante na redução do risco de tumores ginecológicos. “Quando falamos em prevenção, não podemos nos limitar apenas ao consultório médico. A escolha por uma vida saudável tem impacto direto na incidência desses cânceres, especialmente no de endométrio. A prevenção é, em grande parte, educação em saúde”, comenta.
Outro ponto fundamental é o monitoramento de fatores hereditários. Alterações nos genes BRCA1 e BRCA2 elevam consideravelmente o risco de câncer de ovário e mama. Em casos assim, o aconselhamento genético e exames preventivos podem orientar decisões que salvam vidas. “A medicina de precisão nos dá hoje ferramentas para mapear riscos individuais. O conhecimento sobre mutações genéticas possibilita adotar medidas proativas que antes não eram possíveis, e isso muda completamente o cenário de prevenção”, reforça.
Por fim, o especialista afirma que é essencial estar sempre alerta a sinais como sangramentos fora do ciclo, dores pélvicas persistentes, alterações na região genital ou sangramentos pós-relação. Procurar atendimento médico ao notar esses sintomas é a principal forma de evitar diagnósticos tardios. “Muitas mulheres demoram a buscar ajuda por acreditar que determinados sintomas são normais. Informação é poder: reconhecer os sinais e procurar o ginecologista imediatamente pode ser a diferença entre um tratamento simples e um quadro avançado”, finaliza.
Dicas práticas para prevenção e cuidados regulares:
- Consultas ginecológicas periódicas, com coleta do Papanicolau conforme a faixa etária e histórico clínico, e discussão sobre o teste de HPV quando indicado.
- Vacinação contra HPV, segundo o calendário do SUS ou indicação médica: meninas e meninos de 9 a 14 anos de forma gratuita; em clínicas privadas, vacina nonavalente para até 45 anos, proporcionando ampla proteção.
- Adoção de estilos de vida saudáveis: controle e prevenção da obesidade, atividade física regular e alimentação equilibrada reduzem o risco de endométrio e de outros tumores relacionados.
- Monitoramento de fatores hereditários, especialmente no câncer de ovário, alterações genéticas como as nos genes BRCA1 e BRCA2 elevam significativamente o risco; o aconselhamento genético e testes podem orientar melhoras nas medidas preventivas.
- Atenção aos sintomas e sinais de alerta: sangramentos fora do ciclo menstrual, dores pélvicas persistentes, alterações na região genital ou sangramentos pós-relação são sinais que merecem investigação e devem ser reportados imediatamente ao ginecologista