Um relato contra a pressa, o medo e a terceirização da saúde

Em um tempo histórico marcado pela medicalização excessiva da vida, pela busca incessante de soluções rápidas e pela crescente dependência de sistemas que prometem cuidar de tudo por nós, o livro enviado pelo doutor Pablo Lompart surge como uma obra contra a corrente. Não é um livro confortável. Não foi escrito para agradar, tranquilizar ou vender promessas. Foi escrito para provocar consciência.

Desde as primeiras páginas, fica claro que não se trata de um manual médico convencional, tampouco de um guia espiritual dissociado da realidade concreta do corpo. O livro propõe algo cada vez mais raro: uma visão integrativa e responsável da saúde humana, onde o físico, o mental e o espiritual não competem entre si, mas se interligam de forma inseparável .

A obra parte de um princípio simples e, ao mesmo tempo, profundamente esquecido: ninguém adoece apenas no corpo. Doenças não surgem no vazio. Elas se desenvolvem em um terreno biológico, emocional e existencial que foi sendo construído ao longo do tempo. Alimentação inadequada, intoxicação crônica, estresse contínuo, medo, conflitos emocionais não resolvidos, perda de sentido e desconexão interior formam o pano de fundo silencioso de grande parte dos adoecimentos modernos.

O autor não nega a importância da medicina clássica. Pelo contrário, reconhece com clareza seu papel fundamental nas urgências, emergências, traumas e cirurgias. O que o livro questiona é a lógica reducionista que transforma todo sofrimento humano em um problema químico a ser silenciado, muitas vezes sem que se olhe para as causas profundas que sustentam o desequilíbrio.

Um dos eixos centrais da obra é a desintoxicação. Vivemos em um mundo saturado de substâncias tóxicas: agrotóxicos, metais pesados, conservantes químicos, medicamentos em excesso, poluição ambiental e eletromagnética. O livro descreve com riqueza de detalhes como esse acúmulo progressivo compromete o funcionamento do fígado, dos rins, do intestino e do sistema imunológico, criando um estado crônico de inflamação e vulnerabilidade. Mais do que listar procedimentos, o autor ensina lógica, sequência e prudência, deixando claro que limpar o organismo sem consciência pode ser tão prejudicial quanto não limpar.

Outro ponto forte da obra é a abordagem da saúde mental e emocional. O livro desmonta, com clareza, a ideia de que ansiedade, depressão e distúrbios emocionais são apenas falhas químicas do cérebro. Mostra como o estresse crônico — gerado pelo medo constante, pela pressão social e pela vida desconectada da natureza — desliga os mecanismos naturais de reparo do organismo. O corpo, colocado continuamente em estado de alerta, simplesmente deixa de se regenerar.

Nesse sentido, a obra vai além do diagnóstico e propõe caminhos: desde mudanças práticas no estilo de vida até o uso consciente de homeopatias, adaptógenos, práticas de respiração, reprogramação mental e reorganização das relações humanas. Nada é apresentado como solução mágica. Tudo exige participação ativa do leitor.

Talvez o aspecto mais desafiador do livro seja justamente esse: ele devolve ao indivíduo a responsabilidade pela própria saúde. Não há terceirização possível. Médicos, terapeutas, livros e técnicas podem orientar, mas não substituem escolhas diárias. Essa postura pode incomodar, pois exige maturidade, disciplina e autoconhecimento — virtudes pouco estimuladas em uma sociedade baseada na pressa e no consumo.

A dimensão espiritual da obra não aparece como dogma religioso, mas como compreensão profunda do ser humano. O autor defende que o aspecto espiritual — entendido como propósito, significado, identidade e conexão com algo maior — exerce um papel decisivo na recuperação e manutenção da saúde. Não se trata de crença cega, mas de observação prática: pessoas com propósito claro, fé interior e coerência emocional respondem melhor aos processos de cura.

O livro também aborda práticas metafísicas, como imposição de mãos, trabalho com chakras, ressignificação de traumas, perdão e gratidão. Esses temas são apresentados de forma pragmática, sem misticismo exagerado, sempre conectados aos efeitos concretos no equilíbrio emocional e fisiológico. O leitor é convidado a experimentar, sentir e avaliar, e não simplesmente acreditar.

Outro mérito importante da obra é o combate ao medo. O medo do diagnóstico, o medo do futuro, o medo da morte, o medo de errar escolhas. O autor mostra como o medo paralisa, confunde e adoece, enquanto a fé — entendida como convicção interior e confiança — reorganiza o sistema nervoso, fortalece o sistema imunológico e devolve clareza mental. Essa abordagem, embora simples, é profundamente contracultural em uma época que lucra com a insegurança permanente das pessoas.

Mais do que ensinar técnicas, o livro propõe uma mudança de paradigma. Não basta adquirir mais informações; é preciso mudar hábitos, pensamentos, emoções e atitudes diante da vida. A saúde deixa de ser um objetivo isolado e passa a ser consequência de uma vida mais consciente, coerente e alinhada com a própria verdade interior.

Ao final da leitura, o leitor percebe que não recebeu apenas orientações de saúde, mas um chamado à maturidade. Um convite para abandonar a posição passiva de vítima das circunstâncias e assumir o papel ativo de construtor da própria existência.

Em um mundo cada vez mais barulhento, polarizado e ansioso, este livro chega como um contraponto sereno, firme e necessário. Não promete curas instantâneas, mas oferece algo muito mais valioso: clareza, responsabilidade e sentido. E talvez seja exatamente disso que mais precisamos hoje.

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