Parceria inédita aproxima formação acadêmica da rede pública de saúde mental e amplia práticas dos estudantes alinhadas às diretrizes antimanicomiais
O curso de Psicologia do UniCuritiba iniciou, pela primeira vez, um estágio em saúde mental dentro de um hospital psiquiátrico de referência no Paraná. A experiência inédita envolveu 18 estudantes dos 7º e 8º períodos durante nove semanas.
A psicóloga Letícia Jardim, professora responsável pela supervisão do Estágio Básico em Intervenções na Saúde Mental, diz que a experiência no Hospital Adauto Botelho, em Curitiba, marcou um avanço. “Ao longo do período, os estudantes vivenciaram práticas que aproximaram a formação acadêmica das realidades e desafios dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).”
Durante o estágio, os estudantes acompanharam a rotina dos psicólogos do hospital em atividades como anamnese, orientação de alta, elaboração de Plano Terapêutico Singular (PTS), condução de grupos de escuta e acolhimentos individuais.
A estudante Juliane Carneiro dos Santos diz que a experiência foi um divisor de águas na preparação como futura psicóloga. “Vivenciar a rotina das alas, observar os profissionais e dialogar com pacientes consolidou conhecimentos essenciais, especialmente sobre o funcionamento em rede do SUS e o modelo de atenção psicossocial. Essa experiência reforçou a importância das parcerias entre instituições de ensino e serviços de saúde.”
Segundo a professora Letícia Jardim, a formação profissional em um ambiente que extrapola a clínica-escola tradicional favorece práticas de cuidado mais complexas, interdisciplinares e alinhadas às diretrizes da Reforma Psiquiátrica e da luta antimanicomial.
“A imersão no ambiente hospitalar permite que os futuros psicólogos desenvolvam habilidades específicas relacionadas ao cuidado de pessoas com transtornos psiquiátricos graves e quadros associados ao uso problemático de substâncias”, explica Letícia.
Inquietação e possibilidade de transformação
De acordo com a professora, a escolha do Hospital Adauto Botelho como campo de estágio despertou uma reflexão fundamental: por que ainda estagiar em um hospital psiquiátrico?
“Essa pergunta não apenas desafia a lógica histórica dos serviços de saúde mental, marcada por práticas de exclusão, mas também nos convoca a olhar para uma realidade concreta e para as possibilidades de transformação que surgem justamente dentro desses espaços.”
A docente destaca que o estágio se apoia no marco legal da formação em Psicologia, especialmente na Lei nº 11.788/2008, que exige integração entre teoria e prática, e na Resolução nº 5/2025 do Conselho Federal de Psicologia, que reforça a importância de supervisão ética e didático-pedagógica.
“O estágio básico em intervenções na saúde mental aproxima os estudantes da rede real de cuidados do SUS. A parceria com o hospital surgiu dentro da compreensão de que podemos colaborar com o processo de mudança de estigmas”, comenta a mestre em Psicologia Clínica.
Segundo Letícia, a transformação observada nos estudantes foi um dos pontos mais marcantes da experiência, especialmente na postura crítica, acolhedora e sensível às práticas antimanicomiais. “O estágio não foi apenas técnico, mas ético e político, fundamental para a formação dos futuros psicólogos.”
Mobilização social
Paralelamente ao estágio, os estudantes do UniCuritiba organizaram uma campanha de arrecadação dentro do campus. A mobilização reuniu a comunidade acadêmica e resultou em mais de 2 mil fraldas, 40 kits de higiene feminina, peças de roupas e calçados, além de outros itens de primeira necessidade.
O volume das doações levou o hospital a organizar um bazar beneficente, ampliando o impacto social da iniciativa. “A campanha se tornou parte integral da formação. Mobilizar a comunidade, olhar para as necessidades reais e transformar reflexão crítica em ação concreta fez toda a diferença. Foi a materialização de um vínculo sensível e responsável com o campo da psicologia”, explica a supervisora do estágio.
Formação conectada ao cuidado em rede
Letícia Jardim diz que, ao ocupar um espaço historicamente marcado pela institucionalização do atendimento psiquiátrico e pelas contradições do processo de desinstitucionalização no Brasil, o UniCuritiba reforça seu compromisso com uma formação que dialoga com os desafios reais da saúde mental pública.
“O estágio com duração de um semestre aproxima os estudantes da prática profissional e das discussões contemporâneas sobre cuidado em liberdade, clínica ampliada e políticas públicas de saúde mental”, comenta.
A experiência inédita, continua a professora, também fortalece a articulação entre universidade, serviços e sociedade, reafirmando o papel do ensino superior na formação de profissionais críticos, tecnicamente preparados e comprometidos com a transformação social.
Para a estudante do curso de Psicologia, Gabriela Moraes Franciolli, o estágio em saúde mental no Hospital Adauto Botelho foi uma experiência marcante. “Estar em campo ampliou minha compreensão para além da teoria, evidenciando a importância da presença, da escuta e do cuidado humanizado. A vivência reafirmou o papel do psicólogo na RAPS e fortaleceu minha maturidade profissional.”
Fonte e foto: Assessoria de Imprensa.



